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CLÓVIS ROSSI
Liderança é dinheiro
SÃO PAULO - Parece de lógica impecável a posição que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva manifestou anteontem, ao terminar sua viagem ao
Equador.
"Acho incrível que todos os países
da América do Sul vejam no Brasil
uma liderança natural para o continente. Só o Brasil é que durante 500
anos não enxergou e não quis fazer
isso", disse Lula.
O presidente parece pronto a conduzir um processo em que o Brasil
"desabroche de uma vez por todas,
assuma sua grandeza e dê a contribuição que tem de dar à América do
Sul e ao mundo".
Antes mesmo de tomar conhecimento dessas declarações de Lula,
Márcio Senne de Moraes, um dos jornalistas brasileiros mais versados em
questões internacionais, já manifestava uma curiosidade igualmente lógica: o Brasil tem dinheiro para bancar a liderança regional?
Talvez a pergunta seja de exagerado pragmatismo, mas relações internacionais são feitas muito mais de
pragmatismos do que desejos.
Exemplo concreto, recente e muito
próximo geograficamente: se o Brasil
quer liderar pelo menos a América
do Sul, tem que ajudar a Argentina a
sair de sua crise. Ajudar não apenas
retoricamente, mas, se necessário,
com dinheiro.
No mínimo, deveria ter ajudado financeiramente no longo período em
que os vizinhos negociaram penosamente um acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), fechado só
agora e mesmo assim provisório.
Vale idêntico raciocínio para a Venezuela. Por louvável que tenha sido
a ação brasileira para criar o grupo
de amigos que vai tentar quebrar o
impasse venezuelano, só uma ajuda
econômica reduzirá as brutais perdas
que o país está tendo e ainda terá
com a crise.
O público brasileiro estaria disposto
a pagar o preço dessa liderança, no
discutível pressuposto de que haverá
recursos financeiros para usá-los com
essa finalidade?
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