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CLÓVIS ROSSI
O ovo da serpente, de novo
SÃO PAULO - Passou meio batido, no meio do noticiário sobre vistos e outras restrições norte-americanas ao
ingresso de estrangeiros, a informação de Cíntia Cardoso, desta Folha, a
respeito de projeto, em estudo no Senado dos EUA, que prevê reformas
no sistema de regulação dos departamentos de estudos internacionais das
universidades.
Suspeita-se de que se trate de uma
tentativa de impor às investigações
acadêmicas o zelo fundamentalista
que caracteriza a gestão George Walker Bush.
Se levada adiante a tentativa de
censura, perdem não apenas os Estados Unidos mas, principalmente, os
países que são pesquisados por acadêmicos dos EUA.
Uma das belezas da democracia
norte-americana é exatamente a formidável capacidade de investigar, de
apurar e de denunciar, quando é o
caso, pecados e até crimes praticados
pelos próprios EUA.
Tome-se o caso do Chile. Duvido
que haja documentação mais abundante e mais sólida sobre a participação de Washington no golpe que derrubou o governo constitucional de
Salvador Allende (1970/73) e sobre os
crimes depois praticados do que no
próprio Congresso norte-americano.
Para não falar das academias.
Agora mesmo, acabam de sair dois
estudos acadêmicos (do Council on
Foreign Relations e do Carnegie Endowment for International Peace)
que desmontam certezas oficiais sobre, respectivamente, a política para
os países andinos (em especial a Colômbia) e sobre as vantagens do Nafta para o México (o que põe nota de
cautela sobre qualquer acordo de livre comércio).
Monitorar pesquisas é fazer o inverso do que seria correto: o problema para os Estados Unidos não é que
as pesquisas tenham um eventual
viés esquerdista (ou muçulmano ou o
que seja), mas o fato de, muitas vezes,
Washington não observar nos outros
países as regras democráticas que fizeram a grandeza do país.
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