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ELIANE CANTANHÊDE
A reforma, em boa hora
BRASÍLIA - O governo jura que sim, o Senado também. Mas, no duro, ninguém acredita que o Congresso aprove partes essenciais da reforma do Judiciário na convocação extraordinária que começa amanhã. É pena.
Essa reforma tramita há 12 anos e,
como a da Previdência, está mais do
que decantada. As posições a favor e
contra são sobejamente conhecidas,
não vão mudar. É hora de votar. "Ir
para o pau", no jargão parlamentar.
Para o secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça, Sérgio Renault, o projeto da Câmara, da
relatora Zulaiê Cobra, "já está maduro". Agora, é passar pela CCJ do
Senado e ir para o plenário. Sem alterações, de preferência, para não ter
de voltar à Câmara.
A questão fundamental é a polêmica e necessária criação de um Conselho Nacional de Justiça -que nada
mais é do que o tal "controle externo
do Judiciário" por uma comissão
com 15 integrantes, de dentro e de fora do Poder, para acompanhar e fiscalizar as atividades administrativo-financeiras e eventuais desvios funcionais de juízes.
Há uma tênue linha entre apurar
"desvios funcionais" e duvidar do
mérito de sentenças. Na Operação
Anaconda, por exemplo, há juízes
sob a suspeita de cometer desvios justamente ao dar sentenças. Mais claramente: de ter levado vantagem ou
até dinheiro para decidir assim ou
assado. As sentenças, como eles, também devem estar sob suspeição.
Ninguém quer interferência na autonomia e no poder do juiz para julgar. Mas, vamos ser honestos, há,
sim, um nível de imunidade além do
razoável -como admite, cheio de
dedos, o próprio secretário Renault.
A Justiça é intocável. Mas o juiz é
uma pessoa e, como tal, sujeito a erros ou tentações. E é um servidor público que deve prestar contas à sociedade. Não pode sair por aí fazendo o
que dá na sua cabeça (às vezes, no
bolso), impunemente.
Vem aí a convocação extraordinária, a Câmara tem pauta cheia e o Senado entra meio de gaiato. Ajudaria
muito se votasse, enfim, a reforma do
Judiciário. Não resolve, mas melhora.
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