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HOMICÍDIOS EM QUEDA
Estatísticas da polícia paulista indicam uma auspiciosa
tendência de declínio dos homicídios dolosos no Estado. Os números
de assassinatos referentes aos primeiros nove meses de 2004 foram os
menores dos últimos 10 anos. No período, foram registrados 6.885 crimes desse tipo. O número é elevado,
porém inferior aos 9.386 computados em 2001 e aos 8.858 de 2003.
A notícia pode, no entanto, não ser
tão boa quanto parece. De acordo
com membros de órgãos como o
Núcleo de Estudos da Violência, da
USP, e do do Instituto Brasileiro de
Ciências Criminalísticas, incorreções no preenchimento de boletins
de ocorrência (BOs) seriam suficientes para pôr em xeque as estatísticas
oficiais. O próprio ouvidor-geral da
polícia do Estado, Itajiba Farias Ferreira Cravo, apontou a possibilidade
de que ocorram equívocos em número suficiente para distorcer o índice
de assassinatos.
De fato, reportagem publicada ontem por esta Folha constatou erros
graves em 14 BOs preenchidos no
ano passado. A despeito das evidências de assassinato listadas pelos
próprios policiais, as ocorrências foram qualificadas como "encontro de
cadáver" ou "morte a esclarecer".
São expressões que devem ser utilizadas apenas nos casos em que não
há sinais externos de violência, indicando a possibilidade de morte natural. Assim, enquadrados nessas categorias, homicídios dolosos passariam para as estatísticas como "ocorrências não-criminais". A depender
da quantidade de erros como esses,
os números oficiais podem estar refletindo uma situação muito menos
grave do que a real.
É precipitado considerar esses fatos como manobras intencionais para maquiar as estatísticas oficiais de
homicídios. Os erros no entanto
existem. É preciso que o governo do
Estado esclareça sua amplitude e
suas causas. Caso contrário, continua-se a oferecer à sociedade o direito de acreditar que os números não
podem ser considerados confiáveis.
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