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VAGUINALDO MARINHEIRO
Números mortos
SÃO PAULO - Reportagem de Gilmar Penteado e Alexandre Hisayasu publicada ontem nesta Folha mostra
que não sabemos quantas pessoas
são assassinadas em São Paulo, Estado que se gaba de ter as melhores estatísticas de violência do país.
Homicídios entram nos relatórios
da Secretaria da Segurança Pública
como "encontro de cadáver" ou
"mortes a esclarecer". São casos de
adolescentes mortos por traficantes,
de brigas em bar ou o de um homem
que levou oito tiros. O que poderia ser
que não um homicídio? Alguém sabe
de um suicida que se dá oito tiros!?
O problema não é inédito em São
Paulo. Em 1993, a Folha revelou que
as estatísticas de assassinatos em São
Paulo eram subestimadas.
No primeiro final de semana de dezembro daquele ano, ocorreram 59
homicídios, segundo o IML. A polícia
divulgou que eram 29. À época, distritos policiais escondiam alguns crimes, principalmente os cometidos
por policiais. Descoberta a enganação, passou a ser obrigatória a comunicação de todos os homicídios.
Agora é detectado um novo problema, tão grave quanto aquele.
O Estado precisa se dar conta de
que estatísticas de violência não são
apenas dados eleitorais, usados pelo
governo para se vangloriar, quando
ela diminui, ou pelos adversários para criticá-lo, quando ela cresce.
Ao utilizar números errados, por
má-fé ou incompetência, o Estado
engana o cidadão e pode estar tomando decisões equivocadas. É necessário saber exatamente onde,
quando e como acontecem os crimes
para tomar medidas para evitá-los.
E será difícil convencer as pessoas
de que não se trata de má-fé, uma
vez que o Estado proibiu que o Núcleo de Estudos da Violência, que fazia um trabalho de pesquisas sobre
boletins de ocorrência, inquéritos e
impunidade penal, continuasse a ter
acesso aos papéis das delegacias. O
que o Estado pretende esconder?
Que o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro
Abreu Filho, que sempre se esconde e
nega dar declarações em momentos
de crise, fale e aja desta vez.
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