São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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VAGUINALDO MARINHEIRO

Números mortos

SÃO PAULO - Reportagem de Gilmar Penteado e Alexandre Hisayasu publicada ontem nesta Folha mostra que não sabemos quantas pessoas são assassinadas em São Paulo, Estado que se gaba de ter as melhores estatísticas de violência do país.
Homicídios entram nos relatórios da Secretaria da Segurança Pública como "encontro de cadáver" ou "mortes a esclarecer". São casos de adolescentes mortos por traficantes, de brigas em bar ou o de um homem que levou oito tiros. O que poderia ser que não um homicídio? Alguém sabe de um suicida que se dá oito tiros!?
O problema não é inédito em São Paulo. Em 1993, a Folha revelou que as estatísticas de assassinatos em São Paulo eram subestimadas.
No primeiro final de semana de dezembro daquele ano, ocorreram 59 homicídios, segundo o IML. A polícia divulgou que eram 29. À época, distritos policiais escondiam alguns crimes, principalmente os cometidos por policiais. Descoberta a enganação, passou a ser obrigatória a comunicação de todos os homicídios.
Agora é detectado um novo problema, tão grave quanto aquele.
O Estado precisa se dar conta de que estatísticas de violência não são apenas dados eleitorais, usados pelo governo para se vangloriar, quando ela diminui, ou pelos adversários para criticá-lo, quando ela cresce.
Ao utilizar números errados, por má-fé ou incompetência, o Estado engana o cidadão e pode estar tomando decisões equivocadas. É necessário saber exatamente onde, quando e como acontecem os crimes para tomar medidas para evitá-los.
E será difícil convencer as pessoas de que não se trata de má-fé, uma vez que o Estado proibiu que o Núcleo de Estudos da Violência, que fazia um trabalho de pesquisas sobre boletins de ocorrência, inquéritos e impunidade penal, continuasse a ter acesso aos papéis das delegacias. O que o Estado pretende esconder?
Que o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, que sempre se esconde e nega dar declarações em momentos de crise, fale e aja desta vez.


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