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IGOR GIELOW
Paixão incorrigível
BRASÍLIA - Grande é a paixão do governo Lula por atos de moralismo retórico que, rapidamente, revelam
traços de autoritarismo. O instinto
até adormece de tempos em tempos,
mas parece seguir o conselho certeiro
do francês La Rochefoucauld (1613-80) sobre o amor: "A ausência diminui as pequenas paixões e aumenta
as grandes, assim como o vento apaga velas, mas incrementa incêndios".
Depois de um tempo quieto, o coração do governo voltou a disparar. Foi
ressuscitada uma proposta para punir mais rigidamente o que é considerado desvios na utilização de grampos. A idéia dormia na Casa Civil e
foi assinada por um grupo de advogados no qual se destacava um amigão de José Dirceu, Antônio Carlos de
Almeida Castro.
Pela idéia, o grampo legal será uma
peça destinada a um sigilo público
eterno. Divulgação na imprensa dá
cadeia. Num corporativismo típico,
advogados ganham imunidade a
grampos -há direitos óbvios a preservar na relação entre cliente e defensor, mas, se o doutor combinar
com um quadrilheiro uma fuga de cinema, ninguém irá saber.
Tudo muito vago, como convém a
uma idéia fadada a cair devido ao
inoportunismo político. Como suas
antecessoras, como o Conselho Federal de Jornalismo, a Ancinave.
O debate em si é justificável. Existe
um mercado de grampos de todos os
tipos, como qualquer repórter de política iniciante sabe. Há promotores,
procuradores e policiais loucos por ribalta. Há irresponsabilidade de vários meios de comunicação e jornalistas que fazem acordos com o tinhoso
por 15 minutos de fama.
Mas o que sobressai é a vontade do
governo de limitar escândalos. Se a
lei estivesse em vigor, a fita do caso
Waldomiro Diniz teria virado pó. O
famoso vídeo ilegal de Maurício Marinho embolsando R$ 3.000 talvez
nunca tivesse sido divulgado. Há argumentos pró e contra esses instrumentos. Mas, sem o vídeo, talvez não
houvesse Roberto Jefferson e o "mensalão".
É aí que entra o interesse público,
que foi ignorado até aqui. É a praxe.
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