São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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CORTE NOS JUROS

A decisão do Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) de reduzir em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros rompeu com o imobilismo dos dois últimos meses, quando os cortes na Selic foram interrompidos. A queda é pequena, mas sem dúvida emite um sinal de alento para o setor produtivo, cujas expectativas vêm sendo em parte frustradas pela exagerada cautela da autoridade monetária, pautada pelo esforço de cumprir à risca a meta de inflação de 5,5% estabelecida para este ano.
As pressões de preços no atacado, geradas por tentativas de recuperar margens e compensar elevações de custos, levaram o BC a colocar-se ainda mais na defensiva. Os movimentos altistas, no entanto, têm cedido. Às vésperas da reunião de ontem, mesmo analistas mais conservadores, que pregam a preservação da meta, consideravam possível uma redução como a anunciada.
Do ponto de vista político, o corte representa um alívio nas pressões que se avolumam sobre o Planalto, com críticas abertas à política econômica em meio à crise gerada pelo caso Waldomiro Diniz. A incógnita é até que ponto o sinal é episódico ou marcará o reinício de uma seqüência de quedas em busca de níveis aceitáveis para os juros.
Os indicadores da indústria têm mostrado que a retomada da atividade econômica está quase inteiramente circunscrita às exportações e às demandas do agronegócio. Os setores mais dependentes do consumo interno permanecem deprimidos, num quadro de alto desemprego e deterioração do poder aquisitivo.
Mesmo segmentos como o de bens duráveis, que vinham se beneficiando da retomada do crédito, passaram a correr o risco de ver suas vendas retrocederem. Em janeiro, os empréstimos a pessoas físicas já haviam caído em relação a dezembro, segundo dados do BC.
A decisão do Copom vai, portanto, no sentido correto. Pequeno, o corte não irá produzir efeitos significativos na redução das taxas cobradas de empresas e consumidores, mas deverá ter repercussões positiva nas expectativas da economia real.


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