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A APOSTA DE GAROTINHO
O flerte com o populismo nacionalista que volta a ganhar
força na América do Sul tem dificuldades para fincar raízes no Brasil. O
PT e o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva -que, antes de chegarem à
Presidência, poderiam ser incluídos
nessa cepa- tão logo tomaram o leme da economia se mostraram bastante ortodoxos e mantiveram os parâmetros da política implementada
sob Fernando Henrique Cardoso.
Nem Lula nem o tucano Geraldo
Alckmin, segundo colocado nas pesquisas para a eleição de outubro, prenunciam inflexão rumo a um modelo heterodoxo de conduzir a economia nos próximos quatro anos. Mas
o terceiro colocado, o peemedebista
Anthony Garotinho, pelo visto vai
tentar seduzir o eleitorado com apelos nacionalistas bem conhecidos.
Pouco versado no vocabulário técnico, o ex-governador do Rio tem recorrido repetidamente ao emblema
retórico da mudança do modelo econômico. Diz que está buscando o espaço "nacionalista, desenvolvimentista, que se opõe à ditadura do sistema financeiro, à entrega do Brasil".
A fazer as vezes de mentores do pré-candidato do PMDB estão nomes como Carlos Lessa e Darc Costa, cuja
passagem recente pelo BNDES
-em que chegaram a nutrir a expectativa de deslanchar um "New Deal"
no país- não deixou saudades.
Aguarda-se para breve uma síntese
do que seriam as propostas de Garotinho para inaugurar um modelo
econômico edênico, em que os juros
baixariam apenas pela força de vontade do príncipe, o superávit primário seria reduzido e virtualmente eliminado, o Estado passaria a investir
em larga escala e o crescimento do
PIB convergiria com o desempenho
chinês sem redespertar a inflação.
Mas a viabilidade das propostas de
Garotinho não parece ser a sua
maior preocupação. Candidato mais
de si mesmo que de uma agremiação
política, aposta as suas fichas em um
cenário de fadiga da população com
os partidos hegemônicos -o mesmo que permitiu a ascensão de Hugo
Chávez na Venezuela e levou Ollanta
Humala ao segundo turno no Peru.
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