São Paulo, terça-feira, 18 de abril de 2006

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A APOSTA DE GAROTINHO

O flerte com o populismo nacionalista que volta a ganhar força na América do Sul tem dificuldades para fincar raízes no Brasil. O PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -que, antes de chegarem à Presidência, poderiam ser incluídos nessa cepa- tão logo tomaram o leme da economia se mostraram bastante ortodoxos e mantiveram os parâmetros da política implementada sob Fernando Henrique Cardoso.
Nem Lula nem o tucano Geraldo Alckmin, segundo colocado nas pesquisas para a eleição de outubro, prenunciam inflexão rumo a um modelo heterodoxo de conduzir a economia nos próximos quatro anos. Mas o terceiro colocado, o peemedebista Anthony Garotinho, pelo visto vai tentar seduzir o eleitorado com apelos nacionalistas bem conhecidos.
Pouco versado no vocabulário técnico, o ex-governador do Rio tem recorrido repetidamente ao emblema retórico da mudança do modelo econômico. Diz que está buscando o espaço "nacionalista, desenvolvimentista, que se opõe à ditadura do sistema financeiro, à entrega do Brasil". A fazer as vezes de mentores do pré-candidato do PMDB estão nomes como Carlos Lessa e Darc Costa, cuja passagem recente pelo BNDES -em que chegaram a nutrir a expectativa de deslanchar um "New Deal" no país- não deixou saudades.
Aguarda-se para breve uma síntese do que seriam as propostas de Garotinho para inaugurar um modelo econômico edênico, em que os juros baixariam apenas pela força de vontade do príncipe, o superávit primário seria reduzido e virtualmente eliminado, o Estado passaria a investir em larga escala e o crescimento do PIB convergiria com o desempenho chinês sem redespertar a inflação.
Mas a viabilidade das propostas de Garotinho não parece ser a sua maior preocupação. Candidato mais de si mesmo que de uma agremiação política, aposta as suas fichas em um cenário de fadiga da população com os partidos hegemônicos -o mesmo que permitiu a ascensão de Hugo Chávez na Venezuela e levou Ollanta Humala ao segundo turno no Peru.



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