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CARLOS HEITOR CONY
Trotes eletrônicos
RIO DE JANEIRO - Quando o uso
do telefone tradicional tornou-se
comum, ao alcance de quase todos,
os mais conservadores temeram
que a privacidade de cada um ficasse ameaçada. Afinal, com o número
do aparelho num catálogo geral podia-se penetrar na intimidade do
lar, da empresa, na vida de todos.
Houve época em que os trotes
eram frequentes. Quem não tinha
muito o que fazer pegava o telefone,
discava um número qualquer, xingava a mãe do sujeito, acusava a
mulher de adultério, cobrava uma
dívida inexistente.
Lembro um sujeito que, nos anos
40, deu um tiro no seu telefone porque um gaiato ligava todos os dias
para cobrar maior vigilância sobre a
mulher, que, segundo a voz anônima, era uma galinha.
Com o computador começou a
haver não apenas o trote, mas a informação ociosa, poluidora da telinha. Ofertas de dinheiro fácil, de
mulheres também fáceis, em épocas eleitorais a agenda dos candidatos pelos grotões do Brasil afora,
campanhas mirabolantes disso e
daquilo, um mundão de propostas
que não interessam a ninguém.
Há também trotes, encontros
que não se realizam, convites falsos,
denúncias de falências, de corrupção, de pedofilia, que agora entrou
na moda.
Certa vez, fiquei sabendo que um
cidadão famoso havia morrido e fora sepultado no São João Batista às
escondidas. Empresário importante no mercado, sua morte não podia
ser divulgada. Teriam arranjado um
sósia, que ocupou seu lugar na família, na empresa e na sociedade.
Tempos atrás, recebi uma oferta
de um apicultor que me queria vender uma colmeia de abelhas. Nos
meus delírios mais extravagantes,
já pensei em chegar a papa, a ser barítono do Metropolitan, a craque do
Real Madrid. Mas Deus é testemunha de que nunca pensei em mexer
com abelhas.
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