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Olhar cuidadoso
A opinião pública merece explicação mais detalhada da evolução patrimonial de Palocci; procurador-geral da República promete examinar
Chama a atenção em qualquer
parte uma transação imobiliária
de R$ 6,6 milhões, em apenas
duas parcelas, realizada por político profissional. Não poderia ser
diferente com o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci (PT-SP).
No entanto, como é sabido, vários princípios republicanos palmares não gozam de vigência plena no Brasil. O ministro, um dos
homens mais fortes do governo
Dilma Rousseff, parece presumir
que a compra de um apartamento
de 502 m2 em bairro nobre de São
Paulo não o obriga a esclarecer a
origem dos recursos empregados.
A aquisição foi consumada pela
empresa de consultoria Projeto,
aberta por Palocci pouco mais de
dois meses antes de eleger-se deputado federal. Na ocasião, o patrimônio declarado do candidato
à Câmara somava R$ 375 mil (o
apartamento, portanto, teria custado quase 18 vezes mais).
Há algo por explicar, é evidente.
O que é bem diferente de prejulgar
que haja algo de inexplicável na
transação. Enquanto era deputado, Palocci pode bem ter encontrado uma veia (ou um veio) empresarial antes desconhecida pelo
político bem-sucedido -capaz de
superar o percalço da quebra do
sigilo do caseiro, em 2006, que lhe
custou o Ministério da Fazenda, e
regressar ao âmago do poder.
O ministro-chefe da Casa Civil
só precisa vir a público para deixar patente que essa atividade paralela ao mandato parlamentar
não envolvia nenhum conflito de
interesses. Estranha-se, por isso,
que ele evite divulgar quem foram
seus clientes e que gênero de serviços lhes prestou.
É de seu próprio interesse, para
não falar da presidente, evitar que
se propaguem suspeitas que a explicação possa provar infundadas. Afinal, Palocci foi também,
em 2010, coordenador da campanha de Dilma à Presidência.
Em sua defesa, o ministro declara que informações sobre a variação patrimonial constam de declarações de renda, que a Projeto
envia informações regularmente à
Receita e que a Comissão de Ética
Pública da Presidência da República o isentou de irregularidades.
O presidente da comissão, José
Paulo Sepúlveda Pertence, diz
que não houve informe específico
sobre o apartamento. Mas, para o
órgão, não haveria por que analisar a evolução patrimonial.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, vê a questão
por ângulo mais coerente com a
vigilância sobre a coisa pública.
Para ele, o patrimônio do ministro
merece "olhar mais cuidadoso".
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