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A sucessão no FMI
O escândalo sexual que ora envolve o diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional),
Dominique Strauss-Kahn, trouxe
à tona mais uma vez, e com renovado fôlego, o debate sobre a divisão de poder nas principais instituições da governança global.
A cúpula das decisões planetárias ainda reflete a paisagem do final da Segunda Guerra Mundial.
Há mais de 65 anos, portanto.
O FMI e o Banco Mundial foram
concebidos na Conferência de
Bretton Woods, em julho de 1944.
Desde então, europeus sempre comandaram o primeiro, e norte-americanos, o segundo.
A Organização das Nações Unidas (ONU), onde o Brasil pleiteia
com justeza um assento permanente no Conselho de Segurança,
é outro exemplo de uma instituição que não se adaptou às transformações internacionais.
A disputa pelo comando do FMI
ocorre em um momento delicado.
O Fundo perdeu boa parte da importância que teve nas últimas décadas, quando desempenhava papel central no socorro a países
atingidos pela sucessão de crises
econômico-financeiras.
Os anos 2000 viram um salto
imenso no fluxo global de capitais, que em 2006 atingiu US$ 7,2
trilhões, mais que o triplo de dez
anos antes. A abundância de dinheiro e o boom econômico mundial pareciam relegar o Fundo a
uma posição de irrelevância. Mas
a crise econômica global que eclodiu em 2008 colocou o FMI mais
uma vez no centro da arena.
Paradoxalmente, a crise que devolveu proeminência ao Fundo
contribuiu para minar o sistema
que mantém o controle das instituições globais nas mãos de europeus e norte-americanos.
Países emergentes, como o Brasil, utilizaram seu bom desempenho na crise -em que sofreram
menos que as nações avançadas e
serviram de esteio para manter a
economia ativa- e passaram a cobrar espaço no núcleo de poder.
Os países em apuros, como não
se cansou de assinalar o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, agora, são os ricos. O Brasil, de
devedor do FMI, passou a credor.
A saída de Strauss-Kahn não
depende mais de inocência ou
culpa, uma vez que politicamente
sua permanência se tornou insustentável. De qualquer modo, não
iria cumprir os cinco anos de seu
mandato, iniciado em novembro
de 2007, pois alimentava desejo
de candidatar-se à Presidência da
França em abril do ano que vem.
A troca de chefia no Fundo será
um teste para a nova correlação de
forças global. Em vez do local de
nascença, o critério de escolha de
candidatos deveria ser o mérito.
Há bons nomes, dentro e fora da
Europa, para comandar a instituição. Um processo aberto só vai fortalecer o FMI, nesta hora em que
sua credibilidade está em jogo.
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