São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

A cidade condenada

FRANKFURT - O relatório das Nações Unidas sobre o "Estado das Cidades do Mundo", divulgado esta semana, acaba condenando São Paulo, sem mencioná-la especificamente, nos seus dois extremos, os Alphavilles e os Jardins Ângela. Serve também para outras grandes cidades brasileiras.
Sobre os condomínios fechados, diz: "No mundo todo, os ricos criaram uma arquitetura de medo, ao se retraírem para encraves residencial fortificados", que "contrariam os princípios do desenvolvimento urbano sustentado".
Sobre as favelas, o relatório lembra que seus habitantes morrem mais cedo até do que os pobres das áreas rurais, em geral considerados os pobres entre os pobres. Além disso, são os mais afetados por desastres naturais e "têm menos acesso à educação".
Aqui reside o ponto-chave. Programas assistenciais, como o Bolsa-Família, são necessários porque não tem o menor cabimento deixar populações pobres morrerem de fome. Mas nem sequer tangenciam o problema dos pobres urbanos, que são a maioria, mas que não correm o risco de morrer de fome.
Mais ainda do que para os pobres rurais, para os urbanos a inclusão social passa por outras vertentes, em parte mencionadas no relatório das ONU. Passa por educação de qualidade ao menos razoável, que as escolas públicas não estão oferecendo, ainda que abram vagas para todos ou quase todos.
Passa por habitação, passa por segurança pública, passa por atendimento à saúde (mais necessário ainda pelas precárias condições sanitárias das favelas) e passa por emprego e renda.
Ou, se se preferir um rótulo que resume tudo, passa por "desenvolvimento urbano sustentado".
Pena que essa discussão está, até agora, longe da campanha eleitoral brasileira.


@ - crossi@uol.com.br


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