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CLÓVIS ROSSI
A cidade condenada
FRANKFURT - O relatório das
Nações Unidas sobre o "Estado das
Cidades do Mundo", divulgado esta
semana, acaba condenando São
Paulo, sem mencioná-la especificamente, nos seus dois extremos, os
Alphavilles e os Jardins Ângela.
Serve também para outras grandes
cidades brasileiras.
Sobre os condomínios fechados,
diz: "No mundo todo, os ricos criaram uma arquitetura de medo, ao se
retraírem para encraves residencial
fortificados", que "contrariam os
princípios do desenvolvimento urbano sustentado".
Sobre as favelas, o relatório lembra que seus habitantes morrem
mais cedo até do que os pobres das
áreas rurais, em geral considerados
os pobres entre os pobres. Além disso, são os mais afetados por desastres naturais e "têm menos acesso à
educação".
Aqui reside o ponto-chave. Programas assistenciais, como o Bolsa-Família, são necessários porque
não tem o menor cabimento deixar
populações pobres morrerem de fome. Mas nem sequer tangenciam o
problema dos pobres urbanos, que
são a maioria, mas que não correm
o risco de morrer de fome.
Mais ainda do que para os pobres
rurais, para os urbanos a inclusão
social passa por outras vertentes,
em parte mencionadas no relatório
das ONU. Passa por educação de
qualidade ao menos razoável, que
as escolas públicas não estão oferecendo, ainda que abram vagas para
todos ou quase todos.
Passa por habitação, passa por segurança pública, passa por atendimento à saúde (mais necessário
ainda pelas precárias condições sanitárias das favelas) e passa por emprego e renda.
Ou, se se preferir um rótulo que
resume tudo, passa por "desenvolvimento urbano sustentado".
Pena que essa discussão está, até
agora, longe da campanha eleitoral
brasileira.
@ - crossi@uol.com.br
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