São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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OS EUA SE MOVEM

Há pouco mais de uma semana, as autoridades econômicas dos EUA declararam que o Japão deveria tratar sozinho de suas próprias feridas.
O sinal foi então suficiente para deslanchar uma brutal desvalorização do iene, projetando uma nova onda de pânico cambial e nas Bolsas asiáticas, que, ato contínuo, afetou a própria Bolsa norte-americana.
Ontem, diante da proporção assumida pelas consequências da atitude inicial, veio o próprio presidente Bill Clinton a público anunciar que o banco central dos EUA passava a ajudar o Japão a sustentar o iene. Houve alívio geral, as Bolsas se recuperaram e o iene valorizou-se.
Os Estados Unidos deram, assim, mais uma demonstração de que têm consciência do caráter interdependente dos mercados internacionais.
Infelizmente, o governo norte-americano tem esperado até o último minuto para dar tais mostras de co-responsabilidade na gestão da crise financeira global. Foi por exemplo necessário, no ano passado, que a Coréia do Sul acenasse claramente com uma moratória total da dívida externa para que os EUA interviessem, garantindo a ajuda necessária para conter o pânico que se afigurava.
Na Indonésia, foram também infelizmente necessárias centenas de mortes e o espectro de uma guerra civil para que o governo dos EUA entrasse em campo, apoiando uma transição política e uma flexibilização nas condições draconianas que o FMI pretendia impor ao país.
Mas os vários exemplos mostram também que, até agora, apesar das várias intervenções (ainda que tardias) dos EUA, nenhum dos problemas estruturais da Ásia e de outras economias emergentes foi corrigido.
Trata-se portanto de ações necessárias, mas insuficientes. O alívio é mais que oportuno, agora que o pânico ganha impulso. Mas a crise continua. Por enquanto, o que se pode dizer das operações de salvamento é que, se já tem sido ruim com elas, seria pior se os mercados especulativos fossem deixados à própria sorte.



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