São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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VIDA DIFÍCIL

Nos últimos meses, a natureza contribuiu mais uma vez para aumentar a desgraça de uma população que jamais foi prioridade séria de governo algum: a nordestina.
Os últimos governos do Ceará haviam reduzido a taxa de mortalidade infantil a um terço do que era em 86. Mas o Estado tem uma das populações mais pobres do país. A situação econômica dessas pessoas ainda é frágil. Uma seca mais forte foi bastante para levar à morte mais crianças. Ou para fazer com que aumentasse o atendimento à infância desnutrida nos serviços sociais cearenses, segundo informações oficiais.
A situação que ora se observa com tristeza no Ceará pode ser ainda pior em outros Estados do Nordeste. E, de certo modo, em menor grau, tem sua semelhança com o que acontece com os mais pobres em todo o país nestes tempos de crise econômica.
O Plano Real havia elevado a renda real média brasileira quase aos níveis mais altos da história. Os mais pobres haviam sido os mais beneficiados. Mesmo assim, a renda média familiar per capita de um terço dos brasileiros não chega a ser maior que R$ 90 por mês. É muito pouco.
As condições de vida dessas pessoas estão quase sempre por um fio. Basta alguém na família perder o emprego que o já precário sustento de todos os seus membros fica ameaçado. E o desemprego e o trabalho precário vêm aumentando.
A elevação dos preços da cesta básica é outro sério perigo. Em São Paulo, nos últimos seis meses, o preço desses produtos essenciais subiu 13,3%, contra uma inflação de cerca de 2%. Passou de R$ 113 para R$ 128. Parece pequeno o aumento: R$ 15. Mas é uma quantia importante para quem recebe R$ 140, que é o ganho mensal médio de 50% dos trabalhadores do país, segundo os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, de 96.
É provável que esteja nesses dados a raiz da insatisfação que ameaça a reeleição antes tranquila do presidente Fernando Henrique Cardoso.



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