São Paulo, quinta, 18 de junho de 1998

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De novo a polícia

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Três acontecimentos recentes trazem de volta a esta coluna, infelizmente, o tema polícia.
Primeiro vem a história dos dois alemães que estão no Rio na trupe da ópera "Time Rocker", que estréia amanhã aqui no Municipal, e que foram sequestrados na porta do hotel.
Afora o fato de um dos sequestradores estar usando uniforme policial -na hora da abordagem, os alemães foram informados de que estavam sendo presos-, o crime aconteceu num dos locais mais movimentados e policiados da av. Atlântica, em plena Copacabana, pouco depois das 22h. Inacreditável que isso ainda ocorra no Rio.
Depois vem o relatório da Anistia Internacional sobre violação dos direitos humanos, que contempla a polícia brasileira com considerações desabonadoras, principalmente no que se refere a um velho hábito local, que é o de atirar primeiro e perguntar depois.
A polícia do Rio foi nominalmente citada por conta da quantidade de "disparos letais" -o eufemismo é do próprio relatório- que seus homens fizeram ao longo de 97.
Por último, uma historinha: um fotógrafo perde na rua seu telefone celular. O aparelho cai em frente a uma locadora de vídeo e é recolhido por um rapaz que trabalha na loja.
Horas depois, uma amiga do fotógrafo liga para o celular e quem atende é o rapaz, que se identifica, dá endereço e diz que o aparelho pode ser retirado sem problemas.
No dia seguinte, ao tentar reaver seu pertence, o fotógrafo ouve o seguinte relato do jovem: na noite anterior, próximo de casa, ele fora barrado numa blitz policial. Um soldado faz perguntas sobre o celular (onde ele tinha conseguido, qual era o número), diz não acreditar naquela conversa e "apreende" o aparelho. De quebra, fica também com o relógio do rapaz.
Indignado, o fotógrafo procura a delegacia do bairro onde ocorreu a blitz, faz o relato do que tinha acontecido e ouve a seguinte resposta do policial que o atendia:
"Você acha que a polícia tem tempo de ficar procurando celular?"



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