São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Pró-Chávez
"Lamentável a atitude dos artistas e intelectuais que assinaram o manifesto de apoio a Hugo Chávez ("Manifesto de apoio a Chávez inclui Chico", Mundo, pág. A13, 16/7). Espero que os leitores da Folha guardem a lista dos signatários e se lembrem disso ao lerem alguma coisa escrita por essa gente. Muitos desses, aliás, já assinaram coisa parecida a favor do ditador cubano Fidel Castro. O que pretendem de fato essas pessoas? Será que pensam como João Pedro Stedile, que assina o documento? Será que realmente sabem quais as "profundas transformações" pelas quais a Venezuela passa desde a eleição de Chávez? Será que acreditam que o presidente da Venezuela vai construir "uma pátria livre e justa'? Será que sabem que Chávez participou de dois frustrados golpes de Estado e só usa o discurso da democracia para instrumentalizar seus projetos pessoais de poder? Cada frase do manifesto é de uma ingenuidade tão malandra que nem dá vontade de comentar. É muito triste ver como pessoas das quais se esperaria um mínimo de sofisticação intelectual se deixam seduzir por um populismo infantil e destrutivo."
Carlos Gustavo Teixeira (São Paulo, SP)

Saúde
"Agora todo mundo defende o direito dos usuários de planos de saúde: o Ministério Público, o Procon, o Idec etc. Mas quem defende o direito dos usuários do SUS, que esperam três meses para conseguir uma consulta e, quando precisam de um especialista, esperam por mais seis meses? Quem defende essas pessoas quando lhes são pedidos exames que elas não conseguem fazer em lugar nenhum? Quem as defende quando são obrigadas a ficar meses numa fila esperando por uma cirurgia? Certamente ninguém as defende. Do contrário a situação não estaria essa calamidade."
Antonio Carlos Ciccone, médico (São Paulo, SP)

Escola
"Em relação à carta de Cremilda Estella Teixeira ("Painel do Leitor", 13/7) afirmo, como filha de professora do ensino público, que freqüentemente ouço reclamações sobre a falta de educação dos estudantes. Provavelmente a senhora Teixeira nunca recebeu ameaça de morte em sala de aula e nunca foi agredida com palavras grotescas e extremamente rudes apenas por pedir atenção aos alunos. Concordo que o Estatuto da Criança e do Adolescente deva ser respeitado, mas talvez valha a pena pensar na elaboração de um estatuto que proteja os educadores das agressões provocadas por alunos. O texto da lei federal citada pela presidente do Núcleo de Apoio a Pais e Alunos poderia ser modificado. Deveria ser: "Toda criança, adolescente e educador devem se respeitar mutuamente". Aí, sim, deveria estar na porta de entrada das escolas."
Flavia Mattos Zamarrenho Robles, estudante de radialismo (São Paulo, SP)

Educação
"Não concordo totalmente com o editorial "Diploma para nada" (Opinião, 13/7). Embora trate da qualidade de nosso ensino superior, não abordou a principal causa dessa situação, ou seja, os próprios alunos. Estou no segundo ano de direito de uma faculdade nova, que tem um projeto de ensino extremamente audacioso e que demanda do aluno um esforço considerável. Mas a resposta de parte considerável dos alunos é decepcionante, o que acaba influindo no esforço dos professores e na qualidade do ensino. Os estudantes de hoje, meus colegas e companheiros, não interpretam corretamente a importância dos estudos e parecem não entender que desses estudos dependem o futuro deles e -o pior- o da nossa sociedade. Estudar demanda grande esforço intelectual, paciência, horário extra e esforço financeiro. Enfim, estudar demanda muitas coisas. E o que falta -e muito- é vontade de enfrentar essas demandas."
Anselmo Carvalho Santalena (Valinhos, SP)

Medicina
"Permita-me o autor do artigo "Pela medicina de qualidade" ("Tendências/ Debates", 12/7) fazer algumas ponderações. Segundo pesquisa por ele apresentada, 55,4% dos médicos têm mais de três empregos, e vários cumprem jornadas de 60 a 90 horas semanais. Pergunto: será que há necessidade de trabalhar tanto? Certo dia, conversando com um médico recém-formado, que ganhava cerca de R$ 8.000 por mês, disse-lhe: "Você está ganhando bem!". Ele respondeu: "Bem não, razoável. Bem estaria se estivesse recebendo uns R$ 15 mil". Nada tenho contra o que cada um recebe, mas penso que todos precisamos de um "teto" de ganho. Afinal, dinheiro nunca é suficiente. Concordo com quase todos os argumentos proferidos pelo professor Afiz Sadí, mas eu, que sou padre e que há quase 12 anos trabalho como capelão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, tenho uma teoria que repito para os médicos e os padres que reclamam do salário: "O dia em que médicos e padres morrerem de fome, o resto da população já terá ido há tempos". Para comprovar isso, basta reparar, nas cidades carentes, as casas e a qualidade de vida do médico e do padre."
Anísio Baldessin, padre da Ordem de São Camilo, capelão do Hospital das Clínicas da USP (São Paulo, SP)

Ciência
"Cumprimento o caderno Mais! pela publicação do artigo "Complexo de Cientista", assinado pelo neurologista Daniele Riva e pelo psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes. Os autores fazem uma crítica lúcida e radical do projeto da "neuropsicanálise" e de outros que, sob uma vestimenta científica, integradora e unificante, juntam "paradigmas incompatíveis", reduzindo a psicanálise ao que ela não é. Tanto a tentativa de localizar o aparelho psíquico freudiano -e, por extensão, o campo freudiano- nas circunvoluções cerebrais como a de apresentar a psicanálise como uma psicoterapia entre outras -vide a recém-criada Associação Brasileira de Psicoterapia- são projetos ambiciosos, que encantam muita gente, encontram acolhida na mídia e têm conseqüências epistemológicas, clínicas e políticas. Esse artigo resgata, quanto à psicanálise, "a lâmina cortante de sua verdade" (J. Lacan) e, quanto às neurociências, suas realizações e suas fronteiras. Realiza, em ato, aquilo que afirma no final: "Neurologistas e psicanalistas melhor fazem refinando suas diferenças e se surpreendendo mutuamente"."
Ariel Bogochvol, diretor da Escola Brasileira de Psicanálise - Seção São Paulo (São Paulo, SP)
 

"A peculiaridade da psicanálise a coloca, neste momento de globalização desenfreada, como um dos últimos lugares do sagrado. Concordo inteiramente com Daniele Riva e Jorge Forbes e parabenizo-os pelo excelente artigo de 11/7. Peripécias pseudocientíficas nos afastam da possibilidade do afinamento das nossas diferenças. Durante muito tempo, a relação dual caracterizou as camadas mais profundas da transferência, contudo uma modificação surgiu, fazendo entrar em cena o papel de uma triangulação não forçosamente ligada ao Édipo. Como dizem os autores do artigo, o conceito de terceiro analítico está suficientemente presente na clínica atual e merece discussão e reflexão profunda dos profissionais da área. Deixemos que a neurologia e a psicanálise avancem cada vez mais com o uso de suas respectivas ferramentas."
Admar Horn, membro da Sociedade de Psicanálise de Paris e da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

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