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CARLOS HEITOR CONY
A crise é Lula
RIO DE JANEIRO - No último sábado, em palestra promovida pela Clam,
abordei a crise política que engolfou
o governo e o partido do qual se originou. Pessoalmente, embora não descarte o imponderável, acredito que
ela ficará mais ou menos no nível em
que se encontra, com novas revelações que assombrarão a sociedade,
mas circunscritas aos elementos que
nela já estão comprometidos.
As CPIs, e mais tarde a Justiça, terão condições para destrinchar o cipoal e punir a corrupção que se instalou no núcleo do poder. Tão logo isso
aconteça, a crise tenderá a refluir,
normalizando a vida política nacional, apesar dos mortos e feridos que
ficarão estendidos pelo caminho.
A verdadeira crise está um furo a
cima e tem um nome: Lula. Não quero dizer que ele será arrastado na lama atualmente revolvida. Continuo
achando -e creio que a sociedade
também pensa assim- que Lula não
tem nada a ver diretamente com tudo o que vem acontecendo de lastimável em seu governo.
Mas a crise real está mesmo na incapacidade de Lula de administrar.
Dotado de um carisma especial, que
o identifica com o cidadão comum,
falta-lhe a competência executiva, da
qual não tem gosto nem treino.
Distinguiu-se como mediador das
alas conflitantes de seu partido, sempre se colocando num limbo em que
sua autoridade não podia ser contestada. No mais, delegava a amigos e
companheiros uma linha de ação, esperando deles que buscassem os
meios para realizá-la.
Evidente que não irá adquirir esta
capacidade executiva de uma hora
para outra. Falta-lhe vocação e gosto
para mergulhar no labirinto de uma
administração muito mais complexa
do que um partido. Aprova ou desaprova pleitos, nomeia e demite auxiliares à medida que é pressionado. A
crise de agora é fruto dessa inapetência pelo ofício executivo. E a próxima
também o será -e provavelmente
mais devastadora.
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