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Operações em cadeia
Polícia Federal privilegia método de ação que deveria ser alvo de questionamento maduro na campanha eleitoral
COM A ação coordenada
de prisões e apreensões
batizada de Dilúvio, desfechada anteontem, a
Polícia Federal completou a sua
11ª operação em três semanas.
Ativismo tão concentrado no
tempo e tão próximo do início do
período de propaganda política
no rádio e na TV tem suscitado
reclamações entre os opositores
de Luiz Inácio Lula da Silva.
O Ministério da Justiça nega
que a PF tenha antecipado operações em razão do calendário
eleitoral. O titular da pasta, Márcio Thomaz Bastos, afirma que
cada uma dessas investigações
tem seu próprio ritmo e que a hora de agir é sempre definida por
razões estritamente policiais.
Desde o início da gestão petista, o número de operações da PF
vem aumentando fortemente.
Em 2003, os agentes cumpriram
21 delas. No ano seguinte, houve
42 operações, cifra que subiu para 118 em 2005. Nem bem completados oito meses do último
ano do mandato, a conta de 2006
ultrapassa uma centena.
Essa versão policial do "espetáculo do crescimento" já é um
dos principais instrumentos da
retórica presidencial para tentar
neutralizar ataques dos adversários no campo ético, onde a administração petista naufragou.
O candidato à reeleição -que
agiu enquanto pôde para enterrar CPIs, cuja base parlamentar
tentou evitar depoimentos e
quebras de sigilo inconvenientes
ao Planalto, que afirma não saber
de nada do escândalo que varreu
a cúpula de seu governo e de seu
partido- vai dizer que "nunca na
história deste país" a Polícia Federal investigou tanto etc.
Quanto mais operações da PF
houver perto do período eleitoral, obviamente, melhor para o
marketing do despiste adotado
pelo presidente-candidato. Tanto pior se alguma evidência concreta de aparelhamento da polícia -uma instituição do Estado,
e não de um governo específico-
surgir no meio do caminho.
De todo modo, os candidatos à
Presidência ficam desde já convidados a elevar o nível da discussão institucional sobre a Polícia Federal e o combate à corrupção -e ao crime, em geral- por
ela empreendido. Podem começar exprimindo o que pensam do
fato de as ações dos agentes federais estarem hoje praticamente
resumidas às "operações".
Das operações se sabe que produzem grande impacto na mídia
e que transmitem uma mensagem positiva, de que grupos sociais antes imunes aos rigores da
lei vão perdendo esse status anti-republicano. Sabe-se, por outro
lado, que tais irrupções policiais
têm sido acompanhadas de episódios de abuso da força.
Não é incomum que se critique
a ênfase nesse método, em termos de estratégia policial. Enquanto os holofotes estão voltados para as cada vez mais freqüentes operações, a PF ainda
falha no exercício de funções básicas, como a de controlar com
eficácia as fronteiras. Ainda não
está claro, além disso, se as operações que até aqui prenderam
mais de 1.800 pessoas estão se
traduzindo em processos bem
fundamentados na Justiça e,
portanto, efetivamente ajudando a combater a impunidade de
"colarinho branco" no Brasil.
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