São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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O CÁLCULO DE SADDAM

Não chega a ser uma surpresa a decisão do Iraque de aceitar a volta dos inspetores de armas da ONU. Ao anunciar que os funcionários das Nações Unidas poderão agora trabalhar sem empecilhos ou precondições, Saddam Hussein procura esvaziar a pressão que os Estados Unidos vêm exercendo sobre o Conselho de Segurança da ONU para aprovar uma resolução que autorize o uso da força contra Bagdá.
O cálculo de Saddam faz sentido. No cenário que lhe é mais favorável, o ditador iraquiano estará oferecendo a países que já não parecem muito dispostos a acompanhar os EUA em mais essa aventura bélica um bom pretexto para colocar-se contra a guerra. Na pior hipótese -que é também a mais provável- Saddam ganha algum tempo.
A menos que a Casa Branca decida agir à completa revelia da ONU -o que parece uma possibilidade bastante remota depois do discurso de George W. Bush na sede das Nações Unidas, na semana passada-, os EUA terão de esperar um pouco antes que possam dar mais uma missão dos inspetores de armas como fracassada e cogitar de um ataque.
Saddam Hussein já se utilizou de táticas diversionistas no passado. Os EUA certamente contavam com essa eventualidade, tanto que diversas autoridades norte-americanas tinham prontos discursos que procuravam diminuir a importância da decisão iraquiana. O próprio presidente Bush voltou a falar e reforçou a pressão sobre a ONU: desafiou-a a provar que é mais do que uma "sociedade de debates inefetiva".
George W. Bush e Saddam Hussein estão jogando o seu jogo. Cabe à comunidade internacional, representada no Conselho de Segurança da ONU, não cair nos blefes dos jogadores e tentar encontrar uma solução diplomática para a crise, que resulte no desarmamento do Iraque preferencialmente sem a necessidade de recorrer à força.


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