São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 2002

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ANTONIO DELFIM NETTO

O desemprego

O problema do desemprego transformou-se no foco da discussão dos programas eleitorais dos quatro candidatos, cada um deles propondo corrigi-lo com mais rapidez e eficiência. Na octaetéride fernandista, o baixo crescimento acumulou um respeitável saldo de desempregados. Os números não são muito seguros, mas a população economicamente ativa (aqueles que estão dispostos, podem trabalhar e estão procurando emprego) cresceu qualquer coisa parecida com 11 milhões de pessoas (74,1 milhões de pessoas em 1995 e cerca de 84,9 milhões em 2002).
Em 1995, aquela população de 74,1 milhões de pessoas dividia-se em 69,6 milhões de empregados e 4,5 milhões de cidadãos e cidadãs dispostos a trabalhar, procurando emprego, mas incapazes de encontrá-lo. Hoje, o número desses cidadãos sem trabalho é da ordem de 8,4 milhões, o que significa que, em oito anos, o "estoque" de desempregados cresceu em torno de 3,9 milhões de pessoas. Isso foi produzido pela diferença de crescimento, ao longo de oito anos, entre a população economicamente ativa (PEA), que depende de causas demográficas, e a população economicamente empregada, que depende de causas econômicas.
Grosseiramente, podemos estimar:




Durante os anos do Plano Real, acumulou-se um estoque de desempregados da ordem de 3,9 milhões, aos quais se somaram os 4,5 milhões de desempregados já existentes em 1995.
Não cremos que alguém tenha acusado o governo FHC de ter destruído 10 milhões ou 12 milhões de empregos, como reclamou o próprio presidente. Mas qual é a razão básica para que houvesse tão pouca absorção de mão-de-obra no processo produtivo de 1995 a 2002?
Os fatores que produzem o desemprego são muitos (processo tecnológico, queda de demanda, altos juros etc.). O gráfico abaixo mostra, entretanto, que podemos escolher uma variável, a variação da taxa de crescimento do PIB, para "explicar" uma boa parte das alterações da taxa de desemprego -calculadas, ambas, trimestralmente.




A curva marcada "desemprego estimado" é construída com informações obtidas da variação de um trimestre do PIB sobre o trimestre homólogo do ano anterior. Ela mostra, grosseiramente, que um aumento na taxa de crescimento do PIB de 1% tende a produzir uma redução de 0,35% na taxa de desemprego. É por causa de um crescimento pífio de 2,3% ao ano no período que o governo deixa a terrível herança de quase 9 milhões de desempregados. Os candidatos deveriam tomar mais cuidado com suas promessas eleitorais.


Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.

dep.delfimnetto@camara.gov.br



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