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CARLOS HEITOR CONY
Essas fontes murmurantes
RIO DE JANEIRO - Outro dia me perguntaram pelas minhas fontes. Não
entendi direito, pensei que fosse pela
fonte aqui ao lado, na Lagoa, a fonte
da Saudade, sobre a qual escrevi crônica recente.
Não, não era isso o que queriam.
Tinham curiosidade de saber quem,
ou melhor, quais eram as minhas
fontes, ou seja, as pessoas ou grupos
que me abasteciam não da necessária água, mas da desnecessária informação sobre quem é bom ou mau,
quem está roubando ou querendo
roubar, quem vai fazer isso ou nada
fazer, que, às vezes, é melhor do que
fazer errado.
Não sei se feliz ou infelizmente, não
tenho essas fontes, fontes sábias -ou
sabidas. Quando confesso a minha
pobreza de informações, olham-me
escandalizado. E como me atrevo a
dar palpites sobre isso e aquilo se
nem sei o que estou dizendo ou escrevendo? Para dizer alguma coisa que
valha a pena, é elementar que alguém tenha me abastecido.
Como qualquer profissional da mídia, até que poderia ter fontes demais, fontes suficientes e até mesmo
eficientes. Não é que as despreze, mas
não dou muito valor a elas.
O que eu preciso, com certa urgência, é de uma fonte que me informe o
bicho que vai dar, o bilhete do grande
prêmio e, numa variante espiritual
do mesmo interesse, o que é certo e errado para conquistar o reino dos céus
e a mulher amada.
Nesse departamento, as fontes tradicionais me deixam na mão. Gostaria de encontrar uma fonte como
aquela que desprezei na semana passada: um sujeito barbado, com uma
túnica igual à de um Cristo de beira
de estrada, informava-me que o
mundo iria acabar no mês que vem e
que eu precisava me arrepender dos
meus pecados.
Agradeci a informação e continuei
na minha, como se o mundo nunca
fosse acabar e como se eu não tivesse
pecado algum de que me arrepender.
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