São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2004

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DIRCEU X PALOCCI

As divergências públicas que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, vem manifestando em relação a seu colega da Fazenda, Antonio Palocci, parecem dizer respeito menos a convicções sobre os rumos da política econômica do que a uma disputa política no interior do petismo. Embora o titular da Casa Civil não deva se comportar como um robô, como ele mesmo declarou, seus pronunciamentos sobre medidas econômicas podem dar a falsa impressão de que ele representa um movimento consistente de reformulação das diretrizes econômicas.
Ao iniciar-se a gestão Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu surgia como uma espécie de primeiro-ministro a tudo coordenar e controlar. Poucos duvidariam de que ele seria o braço direito do presidente e seu subordinado de maior prestígio político.
Dois fatos mudaram substancialmente esse cenário: o escândalo envolvendo o assessor Waldomiro Diniz e a retomada do crescimento econômico após um período de fortes restrições. O primeiro subtraiu muito da força política de Dirceu e o segundo forneceu a Palocci o resultado que lhe faltava para assumir integralmente o papel de mais forte ministro do governo, que hoje é seu.
É contra essa primazia indiscutível do ministro da Fazenda que Dirceu, a título de pontificar sobre decisões de política econômica, parece mover-se. Para o governo, essas investidas podem ser úteis ao sinalizar para setores do petismo e críticos de Palocci que eles possuem um defensor no coração do poder. Na prática, contudo, as censuras que partem da Casa Civil acabam por criar ruídos e dificultar um debate mais sereno e produtivo sobre eventuais ajustes na política econômica.
Situações dicotômicas estimulam visões simplistas e esquemáticas, em prejuízo da discussão mais esclarecida: se toma-se esta medida, é porque o governo teria se rendido ao "neoliberalismo", se cogita-se de outra, está cedendo ao "populismo". É esse maniqueísmo que as diatribes encenadas pelo ministro Dirceu acabam ajudando a cristalizar.


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