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DIRCEU X PALOCCI
As divergências públicas que
o ministro da Casa Civil, José
Dirceu, vem manifestando em relação a seu colega da Fazenda, Antonio
Palocci, parecem dizer respeito menos a convicções sobre os rumos da
política econômica do que a uma disputa política no interior do petismo.
Embora o titular da Casa Civil não
deva se comportar como um robô,
como ele mesmo declarou, seus pronunciamentos sobre medidas econômicas podem dar a falsa impressão de que ele representa um movimento consistente de reformulação
das diretrizes econômicas.
Ao iniciar-se a gestão Luiz Inácio
Lula da Silva, Dirceu surgia como
uma espécie de primeiro-ministro a
tudo coordenar e controlar. Poucos
duvidariam de que ele seria o braço
direito do presidente e seu subordinado de maior prestígio político.
Dois fatos mudaram substancialmente esse cenário: o escândalo envolvendo o assessor Waldomiro Diniz e a retomada do crescimento econômico após um período de fortes
restrições. O primeiro subtraiu muito da força política de Dirceu e o segundo forneceu a Palocci o resultado
que lhe faltava para assumir integralmente o papel de mais forte ministro
do governo, que hoje é seu.
É contra essa primazia indiscutível
do ministro da Fazenda que Dirceu,
a título de pontificar sobre decisões
de política econômica, parece mover-se. Para o governo, essas investidas podem ser úteis ao sinalizar para
setores do petismo e críticos de Palocci que eles possuem um defensor
no coração do poder. Na prática,
contudo, as censuras que partem da
Casa Civil acabam por criar ruídos e
dificultar um debate mais sereno e
produtivo sobre eventuais ajustes na
política econômica.
Situações dicotômicas estimulam
visões simplistas e esquemáticas, em
prejuízo da discussão mais esclarecida: se toma-se esta medida, é porque
o governo teria se rendido ao "neoliberalismo", se cogita-se de outra, está cedendo ao "populismo". É esse
maniqueísmo que as diatribes encenadas pelo ministro Dirceu acabam
ajudando a cristalizar.
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