São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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ESPAÇO PARA CRESCER

Cresce a preocupação quanto à perspectiva da economia brasileira em 2003. Os motivos imediatos são evidentes: a taxa de juros subiu e o dólar se mantém muito alto há semanas, reforçando as pressões sobre a inflação. Isso agrava a incerteza que seria natural surgir num período de transição política que se desenvolve em meio a um quadro internacional adverso. Generalizou-se, assim, a impressão de que se estreita o espaço para a economia crescer em 2003. Mas ainda há grande dispersão de avaliações quanto ao grau da restrição ao crescimento .
Muitos esperam uma pequena aceleração do crescimento: a expansão do PIB passaria do ritmo pouco superior a 1% esperado para 2002 para taxa na faixa de 2% a 2,5%. Outros prevêem estagnação. E há até quem avente uma retração forte do PIB, mirando-se no exemplo da Argentina.
Essa última hipótese parece bastante remota, dadas as claras diferenças entre os dois países. Não há nenhum indício de que o sistema bancário brasileiro esteja ameaçado de ingressar em crise comparável à que tanto contribuiu para a "débâcle" da economia argentina em 2002. Além disso, a partir da adoção do câmbio flutuante, em 1999, o Brasil vem ajustando suas contas externas progressivamente. E nos últimos meses, desde que a escassez de crédito internacional se agravou, o ajuste das contas externas -expresso na elevação do superávit na balança comercial- se acelerou nitidamente, indicando rápida capacidade de adaptação da economia.
A disponibilidade de crédito externo será um condicionante central do espaço que a economia brasileira terá para crescer em 2003. A aversão ao risco dos investidores internacionais se encontra em nível atipicamente alto. Ilustra isso a forte demanda por títulos públicos dos EUA -considerados de baixíssimo risco- , que oferecem o retorno mais baixo dos últimos 40 anos.
As dificuldades para o Brasil crescer serão grandes, se a aversão ao risco no plano internacional permanecer tão extremada ao longo dos próximos meses. Mas algum arrefecimento não parece impossível, e tenderia a abrir melhores perspectivas para o Brasil em 2003.


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