São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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RENDA CONCENTRADA

Gastos sociais, em sua maioria vinculados a despesas inscritas na Constituição, contribuíram para que a distribuição da renda no Brasil melhorasse muito discretamente ao longo da década passada. Não fossem esses dispêndios, provavelmente o abismo que separa a elite mais rica das massas pobres teria se ampliado. Mesmo com esse "colchão" social atuando a favor da melhora distributiva, apenas três países miseráveis da África (Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia) apresentam, hoje, maior concentração de renda do que o Brasil.
A má distribuição de renda não é uma invenção recente do desenvolvimento brasileiro. Trata-se de um entrave secular, que tem raízes, por exemplo, no modelo escravista que perdurou até as portas do século 20. Constatá-lo evidencia que gerações e gerações de brasileiros foram incapazes de enfrentar o problema. A redemocratização recente logrou, como se nota, criar instituições que, ao menos, conseguiram evitar uma piora no quadro. O desafio, agora, é fazer a renda dos mais pobres avançar relativamente mais rápido que a dos mais ricos.
Alguns especialistas tendem a enfatizar que será preciso, nesse esforço, rever boa parte da estrutura de gastos sociais do poder público, pois, argumentam, esses dispêndios não atingem com eficácia os mais necessitados. Outros enfatizam o aspecto das políticas públicas emancipatórias, calcadas, num primeiro momento, na ampliação do emprego popular de baixa qualificação e na expansão da oferta de bens de consumo de massa.
Bons estudos e boas teses sobre como diminuir a concentração da renda no Brasil não faltam. Como da teoria passar à prática é a grande questão, que deverá estar na agenda de transição dos parlamentares e governantes que assumem em janeiro.


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