São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Governar é dar esperança à vida

ALVARO DIAS

Governei o meu Estado, o Paraná, de 1987 a 1991. Nesse período o Plano Cruzado implodiu, provocando a mais grave crise financeira do nosso país. A inflação, agravada por uma recessão profunda, chegou a bater na casa dos 80% ao mês. O PIB nacional teve uma queda de 5,8%. Pois bem, apesar de tudo isso, o Paraná, nesse mesmo intervalo, cresceu. Realizamos um dos maiores programas de obras da história e entregamos o governo com as contas em dia e superávit de caixa.
Qual a lição desse fato? A primeira e principal é que, quando um governo é capaz de sintonizar com as esperanças do povo, as maiores dificuldades são vencidas pela capacidade de trabalho da população e pela competência dos administradores. Sintonizar com as esperanças do povo é mais do que fazer belos discursos. É fundamental entrar em compasso com aquelas virtudes que todos esperam dos governantes: competência, honestidade e decisão.
O Paraná aspira à mudança, mas também a que esta seja feita com determinação e equilíbrio. Acima de tudo, é preciso que a mudança seja a favor da vida; da vida cotidiana de cada paranaense e, de modo particular, daqueles que mais sofrem. Aqueles que trazem o rosto sofrido, "desfigurados pela fome, aterrorizados pela violência, envelhecidos por condições de vida infra-humanas, angustiados pela sobrevivência familiar", como afirma o documento de Santo Domingo, dos bispos da América Latina.
Qual o primeiro e mais fundamental compromisso de um governante, senão com os pequenos, com os que mais sofrem -pois é para estes, antes de mais nada, que o governo deve existir?
Nossa proposta de governo para o Paraná pretende devolver a cada paranaense a esperança numa vida digna e num futuro melhor. O eixo orientador de nosso programa de ação gira em torno de seis grandes linhas: uma nova dinâmica auto-sustentada, a readequação da rede urbana regional, a consolidação do suporte de infra-estrutura regional, a proteção do meio ambiente, a excelência na administração pública e o compromisso social.

O ritmo que queremos impor é o da urgência das transformações que a população está exigindo de forma clara


Para cada uma dessas linhas desenvolvemos programas e projetos que levam em consideração a necessidade de estabelecer uma efetiva interação entre Estado e municípios, de modo a erradicar as velhas políticas clientelistas, substituindo-as por critérios contemporâneos de complementaridade e hierarquização, indispensáveis para induzirmos um desenvolvimento equilibrado e auto-sustentável.
Estudando com cuidado a realidade do Paraná, estabelecemos 12 grandes prioridades, todas assentadas sobre uma análise objetiva das condições concretas e das fontes de recursos possíveis, que chegam a cerca de R$ 55 bilhões, no período 2003/2006. Através da implementação dessas prioridades, projetamos um crescimento de 105% do investimento total do governo, em relação ao período 1999/2002, com a possibilidade concreta de aumentar o PIB paranaense a uma taxa de 5% ao ano e de geração de 520 mil novos empregos no Estado.
A criação do Banco do Emprego e da Produção, da Rede Verde, e o fortalecimento do Banco da Terra, aliados a programas de melhoria da qualidade no atendimento à saúde, educação, habitação, transportes e segurança, priorizando mudanças reais e a curto prazo na vida cotidiana do cidadão, são o compromisso do governo com a vida; a vida concreta de cada habitante deste Estado, que possui potencialidades e forças extraordinárias.
Nosso programa de governo não quer ser um mero "supermercado de intenções". Estabelecemos alternativas de curto, médio e longo prazo, capazes de transformar a face do Paraná, reerguer a capacidade dos cidadãos de criar utopias, gerar esperanças, acreditar na possibilidade de construir o futuro mais justo e solidário. É um programa lúcido, alicerçado na realidade e, ao mesmo tempo, tencionado em direção ao novo.
Um programa-processo, que será construído coletivamente, em função dos variados mecanismos de participação que pressupõe. Sabemos que as mudanças não cairão do céu, mas dependem da nossa capacidade de enfrentamento dos desafios -enfrentamento que depende da criação de condições para aglutinar as forças positivas da sociedade num movimento ascendente vigoroso.
E isto requer, do governante, lucidez, competência, ousadia e equilíbrio para que as decisões que devem ser tomadas produzam efeito real no dia-a-dia dos cidadãos.
Enfrentamos o desafio desta eleição porque acreditamos na força, na coragem e na extraordinária capacidade de trabalho dos cidadãos e cidadãs deste Paraná pujante. E, dessa forma, iremos fundo em nossa decisão, já que, como diz Lebret, "na ação é preciso ir mais depressa do que os acontecimentos, é preciso impor-lhes o ritmo".
O ritmo que queremos impor é o da urgência das transformações que a população está exigindo de forma clara. É nossa responsabilidade comum tornar possível esse "outro" Paraná com que todos sonhamos. Devemos, teimosamente, realizar a tarefa de romper com uma "terra em transe" que mergulha o povo no desespero e de sustentar a utopia de um futuro novo, um futuro no qual a vida seja animada pela esperança.
Este é o nosso compromisso fundamental.

Alvaro Dias, 57, historiador, senador pelo PDT do Paraná, é candidato ao governo do Estado. Foi governador do Paraná (1987-91).



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