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Pela ótica do mercado
CLÓVIS ROSSI
Porto (Portugal) - Até que ponto o
acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional) vai de fato devolver a
confiança na economia brasileira aos
investidores externos?
Confesso que nem sob tortura ensaiaria uma resposta definitiva. Mas
convido o leitor a se aventurar comigo
a uma leitura da situação sob a ótica
dos tais de mercados.
A instituição que mais parece ter o
rosto dos mercados chama-se IIF (sigla em inglês de Instituto de Finança
Internacional, conglomerado de umas
300 e poucas instituições financeiras
de grande porte e ação global).
Comunicado emitido dia 16 de setembro pelo IIF prega as seguintes medidas para "fortalecer a credibilidade"
dos chamados mercados emergentes:
1 - "Reduzir desequilíbrios fiscais".
Ou seja, fazer com que o governo não
gaste mais do que arrecada ou, no mínimo, não muito mais.
É o que o governo brasileiro está
prometendo. Ponto para ele, portanto.
2 - "Implementar políticas monetárias sadias". Os juros praticados no
Brasil podem ser tudo, menos sadios.
Hoje, são insanos, depois de terem ficado em patamar obsceno desde o
lançamento do Real. Ponto contra o
governo.
3 - "Fortalecer os sistemas bancário e
legal". Não parece ser um problema no
Brasil, salvo se os juros se mantiverem
elevados por muito tempo mais. Aí,
emprestar dinheiro, a essência do negócio bancário, fica inviável porque só
louco pedirá emprestado e, ainda por
cima, não vai poder pagar.
4 - "Manter apropriadas taxas de
câmbio". Não há quem não admita
que o real está sobrevalorizado. Portanto a taxa de câmbio não pode ser
chamada de apropriada.
Na melhor das hipóteses, dá, pois,
empate no jogo da credibilidade. A
chave é saber se o ajuste fiscal e o pacote externo bastam para permitir a
redução dos juros. Se não bastarem, a
recessão que vem aí será derramar
sangue inutilmente.
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