São Paulo, domingo, 18 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pela ótica do mercado

CLÓVIS ROSSI
Porto (Portugal) - Até que ponto o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) vai de fato devolver a confiança na economia brasileira aos investidores externos?
Confesso que nem sob tortura ensaiaria uma resposta definitiva. Mas convido o leitor a se aventurar comigo a uma leitura da situação sob a ótica dos tais de mercados.
A instituição que mais parece ter o rosto dos mercados chama-se IIF (sigla em inglês de Instituto de Finança Internacional, conglomerado de umas 300 e poucas instituições financeiras de grande porte e ação global).
Comunicado emitido dia 16 de setembro pelo IIF prega as seguintes medidas para "fortalecer a credibilidade" dos chamados mercados emergentes:
1 - "Reduzir desequilíbrios fiscais". Ou seja, fazer com que o governo não gaste mais do que arrecada ou, no mínimo, não muito mais.
É o que o governo brasileiro está prometendo. Ponto para ele, portanto.
2 - "Implementar políticas monetárias sadias". Os juros praticados no Brasil podem ser tudo, menos sadios. Hoje, são insanos, depois de terem ficado em patamar obsceno desde o lançamento do Real. Ponto contra o governo.
3 - "Fortalecer os sistemas bancário e legal". Não parece ser um problema no Brasil, salvo se os juros se mantiverem elevados por muito tempo mais. Aí, emprestar dinheiro, a essência do negócio bancário, fica inviável porque só louco pedirá emprestado e, ainda por cima, não vai poder pagar.
4 - "Manter apropriadas taxas de câmbio". Não há quem não admita que o real está sobrevalorizado. Portanto a taxa de câmbio não pode ser chamada de apropriada.
Na melhor das hipóteses, dá, pois, empate no jogo da credibilidade. A chave é saber se o ajuste fiscal e o pacote externo bastam para permitir a redução dos juros. Se não bastarem, a recessão que vem aí será derramar sangue inutilmente.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.