São Paulo, domingo, 18 de outubro de 1998

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Vôo baixo

ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Não é só de crise financeira, pacote fiscal, birra de derrotados e FMI que o dia-a-dia do presidente Fernando Henrique Cardoso vai se alimentar a partir de agora.
Passado o segundo turno das eleições, no próximo domingo, ele vai ter que botar a mão numa outra massa explosiva: a divisão de poderes, deveres e verbas das Forças Armadas.
Essa massa é para moldar a criação do Ministério da Defesa, da ANT (Agência Nacional dos Transportes) e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). E vem sendo enrolada há quatro anos.
O novo ministério vai sair. Aliás, já. Só que ele significa rebaixar os atuais ministérios do Exército, da Aeronáutica e da Marinha para secretarias. O que pressupõe os seus ministros batendo continência para o chefe da Defesa.
Fácil? Nem um pouco. Ainda mais porque deve haver corte de vagas de oficiais-generais nas três Forças.
No Congresso, todo mundo concorda com a reforma política, mas ela nunca sai. Nas Forças Armadas, todo mundo concorda com o Ministério da Defesa, mas ele ainda não saiu. Nos dois casos, ninguém quer perder a vaguinha, o status, os privilégios.
O Planalto enfrentou tudo e todos para criar a Anatel (telecomunicações), a ANP (petróleo) e a Aneel (energia elétrica) e deflagrar o maior programa de privatizações do planeta.
E os transportes? Bem, nesse caso o enfrentamento não é com corporações civis, mas militares. O buraco é mais embaixo.
A primeira vitória dos militares foi excluir a aviação civil da ANT, cujo projeto se restringe a rodovias, hidrovias e ferrovias. A segunda foi retardar ao máximo a criação da Anac e o processo de abertura do setor.
Na fila para voar da Aeronáutica para a Anac estão as tarifas aéreas. Na fila de concessões às empresas privadas há a administração de aeroportos, que gerou US$ 1,33 bilhão em 97.
São, evidentemente, decisões difíceis. Mas no caso do petróleo, das teles e da energia também não eram?



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