|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vôo baixo
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Não é só de crise financeira, pacote fiscal, birra de derrotados e
FMI que o dia-a-dia do presidente
Fernando Henrique Cardoso vai se
alimentar a partir de agora.
Passado o segundo turno das eleições, no próximo domingo, ele vai ter
que botar a mão numa outra massa
explosiva: a divisão de poderes, deveres e verbas das Forças Armadas.
Essa massa é para moldar a criação
do Ministério da Defesa, da ANT
(Agência Nacional dos Transportes) e
da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). E vem sendo enrolada há
quatro anos.
O novo ministério vai sair. Aliás, já.
Só que ele significa rebaixar os atuais
ministérios do Exército, da Aeronáutica e da Marinha para secretarias. O
que pressupõe os seus ministros batendo continência para o chefe da Defesa.
Fácil? Nem um pouco. Ainda mais
porque deve haver corte de vagas de
oficiais-generais nas três Forças.
No Congresso, todo mundo concorda
com a reforma política, mas ela nunca
sai. Nas Forças Armadas, todo mundo
concorda com o Ministério da Defesa,
mas ele ainda não saiu. Nos dois casos, ninguém quer perder a vaguinha,
o status, os privilégios.
O Planalto enfrentou tudo e todos
para criar a Anatel (telecomunicações), a ANP (petróleo) e a Aneel
(energia elétrica) e deflagrar o maior
programa de privatizações do planeta.
E os transportes? Bem, nesse caso o
enfrentamento não é com corporações
civis, mas militares. O buraco é mais
embaixo.
A primeira vitória dos militares foi
excluir a aviação civil da ANT, cujo
projeto se restringe a rodovias, hidrovias e ferrovias. A segunda foi retardar ao máximo a criação da Anac e o
processo de abertura do setor.
Na fila para voar da Aeronáutica
para a Anac estão as tarifas aéreas.
Na fila de concessões às empresas privadas há a administração de aeroportos, que gerou US$ 1,33 bilhão em 97.
São, evidentemente, decisões difíceis. Mas no caso do petróleo, das teles
e da energia também não eram?
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|