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ANTONIO DELFIM NETTO
Responsabilidade e cooperação
A CRISE FINANCEIRA mundial trouxe de volta a lembrança de que o capitalismo,
para funcionar adequadamente,
não prescinde de um grau elevado
de cooperação social nem da confiança entre as pessoas que livremente elegeram esse sistema para
viver. Ela reincorporou igualmente
a ideia de que não há contradição
entre a presença de um Estado forte e a organização dos mercados.
O Estado constitucionalmente
regulado precede e sustenta o desenvolvimento dos mercados, cuja
dinâmica é alimentada pela liberdade criativa dos indivíduos. Os
mercados não sobrevivem nem no
Estado absoluto nem no estado de
anarquia.
Por definição, o Estado constitucionalmente organizado é o "garante" da atividade econômica,
através dos mecanismos dos mercados. É ele que a salva quando o
acidente destrói o fator catalítico
que a sustenta: a confiança.
O esquecimento dessas verdades
explica por que os males produzidos na crise foram absorvidos, neutralizados ou rebatidos de forma
tão diferenciada entre os países.
Nos Estados Unidos, por exemplo,
de início, houve muita demora na
intervenção do Estado, embora todos soubessem que, a partir do momento em que foi quebrada a confiança no setor financeiro, era apenas questão de tempo o colapso no
setor real da economia. Tal hesitação contribuiu para o prolongamento da recessão.
Entre nós, percebeu-se rapidamente que o fenômeno transcendia os aspectos financeiros: o que
realmente ameaçava a continuidade do desenvolvimento era a perda
da confiança, aquele fator catalítico que sustenta a coesão social e o
bom funcionamento da economia
real. É fato que o governo Lula vivia
um período de estabilidade política
e de crescimento econômico bem
melhor que seus colegas Bush e
Obama, mas isso não diminui os
méritos de sua reação à crise desde
os primeiros instantes.
O exercício da boa regulação pelas autoridades monetárias manteve o sistema bancário nacional fora
das práticas irresponsáveis que
destruíram um bom pedaço das
instituições financeiras nos países
industrializados. Ele foi atingido
pelo pânico com a morte súbita do
crédito externo e teve que ser socorrido pelo Estado brasileiro, com
alguma hesitação, mas seguramente com medidas corretas, que restabeleceram os níveis de confiança
necessários para a normalização
das linhas de crédito.
O fator decisivo, contudo, que
permitiu ao Brasil afastar a recessão mais rapidamente que qualquer outro país foi que não se quebrou a confiança estabelecida entre um governo decididamente indutor e a sociedade (trabalhadores,
empresários).
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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