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RUY CASTRO
A fração do noticiário
RIO DE JANEIRO - Uma enfermeira do hospital da Universidade
Luterana, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, foi presa no sábado acusada de aplicar
morfina em recém-nascidos. Fez isso com 11 deles na última semana.
Os bebês tiveram parada respiratória e ela, "providencialmente", os
reanimou, provando que era capaz
de "salvar vidas". Podem não ser os
únicos casos nos dois anos em que a
moça trabalha lá.
Em Fortaleza, uma mulher deixou seu filho de um ano na mão de
um traficante como garantia de que
voltaria para pagar a pedra de crack
que acabara de comprar. O bandido
aceitou a criança e, até hoje, meses
depois, a mãe ainda não apareceu
para acertar os R$ 2 e recolher o filho. A história é recente, mas já
consta de um documentário sobre a
esmagadora investida do crack na
capital cearense.
Também no fim de semana, em
Salvador, uma estudante de 20
anos, grávida de seis meses, foi
morta com um tiro no peito. A bala
era para seu namorado, com quem
ela estava no carro. O rapaz, que, segundo a Justiça baiana, tem antecedentes por tráfico, assalto e homicídio, levou outros dois tiros, mas não
vai morrer. Os assassinos foram
dois homens numa moto.
E, também em Salvador nos últimos dias, uma menina de dois anos
morreu vítima de uma bala perdida,
à saída de uma escolinha no bairro
Tancredo Neves, quando estava no
colo da mãe. Segundo a polícia, o tiro teria sido disparado por traficantes que perseguiam correndo um
garoto para lhe cobrar uma dívida
de droga.
Sim, eu sei, não há muito em comum entre os casos. Exceto pelo fato de que as vítimas são jovens, as
mortes, violentas, há sempre uma
droga legal ou ilegal na história e
-talvez porque já tenham se tornado rotina- apenas uma fração desses casos chega ao noticiário.
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