São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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UM ADVOGADO REPUBLICANO

Com a morte de Evandro Lins e Silva, o Brasil perde um notável homem público. Tido como um dos mais brilhantes advogados de tribunal do júri das últimas décadas, foi também um incansável defensor de valores republicanos. Foi ele, por exemplo, o cidadão brasileiro a quem coube redigir, em 1992, o pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
Ao longo de seus 90 anos, Lins e Silva enfrentou dois períodos de exceção. Da Intentona Comunista, em 1935, até o fim da ditadura Vargas, em 1945, defendeu gratuitamente mais de 2.000 presos políticos. Depois, quando veio o regime militar (1964-85), Evandro ocupava posto de ministro do Supremo Tribunal Federal. Como concedia sistematicamente habeas corpus para presos políticos, acabou aposentado pelo AI-5, em 1969. Voltou à cadeira do advogado, mas, por excesso de escrúpulos, evitou atuar diretamente em casos de presos políticos, limitando-se a aconselhar outros advogados.
Evandro afirmava que tinha o vício da defesa da liberdade, que não escolhia causas para defender alguém. Não teve receio de atuar em processos polêmicos, como o de Raul Doca Street, que foi a julgamento pela morte de Ângela Diniz em 1979. Doca Street acabou absolvido.
Na política, manteve grande coerência. Por mais de 70 anos defendeu o que chamava de socialismo democrático. Chegou a concorrer a uma das cadeiras de senador pelo Rio de Janeiro em 1986, mas perdeu. A ausência de um mandato não o impediu, porém, de exercer a política. Participou da campanha pelas Diretas-Já, do impeachment de Collor e, mais recentemente, da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.
Pode-se discordar de suas opções políticas, mas não há como deixar de apreciar o exemplo de integridade, coerência e defesa das liberdades que durante toda a sua vida deu Evandro Lins e Silva.


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