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UM ADVOGADO REPUBLICANO
Com a morte de Evandro Lins e
Silva, o Brasil perde um notável
homem público. Tido como um dos
mais brilhantes advogados de tribunal do júri das últimas décadas, foi
também um incansável defensor de
valores republicanos. Foi ele, por
exemplo, o cidadão brasileiro a
quem coube redigir, em 1992, o pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
Ao longo de seus 90 anos, Lins e
Silva enfrentou dois períodos de exceção. Da Intentona Comunista, em
1935, até o fim da ditadura Vargas,
em 1945, defendeu gratuitamente
mais de 2.000 presos políticos. Depois, quando veio o regime militar
(1964-85), Evandro ocupava posto de
ministro do Supremo Tribunal Federal. Como concedia sistematicamente habeas corpus para presos políticos, acabou aposentado pelo AI-5,
em 1969. Voltou à cadeira do advogado, mas, por excesso de escrúpulos,
evitou atuar diretamente em casos de
presos políticos, limitando-se a
aconselhar outros advogados.
Evandro afirmava que tinha o vício
da defesa da liberdade, que não escolhia causas para defender alguém.
Não teve receio de atuar em processos polêmicos, como o de Raul Doca
Street, que foi a julgamento pela
morte de Ângela Diniz em 1979. Doca Street acabou absolvido.
Na política, manteve grande coerência. Por mais de 70 anos defendeu
o que chamava de socialismo democrático. Chegou a concorrer a uma
das cadeiras de senador pelo Rio de
Janeiro em 1986, mas perdeu. A ausência de um mandato não o impediu, porém, de exercer a política. Participou da campanha pelas Diretas-Já, do impeachment de Collor e,
mais recentemente, da campanha de
Luiz Inácio Lula da Silva.
Pode-se discordar de suas opções
políticas, mas não há como deixar de
apreciar o exemplo de integridade,
coerência e defesa das liberdades que
durante toda a sua vida deu Evandro
Lins e Silva.
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