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CLÓVIS ROSSI
Regras e apocalipse
SÃO PAULO -
O ruído produzido por
certos analistas e por agentes de mercado parece interditar o debate sobre
política econômica. Mesmo após a
eleição, alguns princípios parecem
mais sagrados que a virgindade de
Maria: superávit fiscal da altura que
for necessária para manter a relação
dívida/PIB, pagamento da dívida, juros altos etc.
Qualquer desvio geraria o caos, dizem os profetas da fé cega nos mercados. Há, no entanto, exemplos de que
as coisas podem não ser assim. A Malásia, no auge da crise asiática, impôs
controle de capitais e saiu da crise na
mesma velocidade e nas mesmas
condições dos países que não tomaram essa medida extrema.
A Coréia foi instruída pelo FMI a
seguir o clássico receituário do superávit fiscal, obedeceu-lhe a princípio,
refugou depois e logo saiu da crise.
A Rússia foi à moratória (1998) e
não acabou. A Argentina também
(2002) e sobreviveu. É verdade que
está esfrangalhada, mas não por causa da moratória (na verdade, a moratória foi consequência, não causa
do desastre).
É claro que seria melhor que cada
família pagasse religiosamente suas
dívidas, que não gastasse um centavo
além do que ganha e assim por diante. Não são recomendações ideológicas, mas de sentido comum.
Mas é igualmente óbvio que, se falta dinheiro para comer, você dá o calote em alguém. Se seu filho precisa
de uma cirurgia, você gasta mais do
que tem, mas não vai deixá-lo morrer ou sofrer.
São também ações de sentido comum. O que não tem sentido é o terrorismo de ameaçar sempre com o
apocalipse na primeira esquina, se
não for seguida uma determinada linha de política econômica.
O novo governo deveria ter o direito, ao menos, de decidir se o país chegou ou não a uma situação em que é
preciso romper regras para não impor mais sofrimentos.
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