São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

A falta de autocrítica no PT

BRASÍLIA - Lula e a direção do PT têm todo o direito de esquecer o que disseram. Tudo bem. Ocorre que há no PT quem não foi eleito para aprovar o nome de banqueiros para a presidência do Banco Central.
É o caso da senadora Heloísa Helena (PT-AL). Ela está onde sempre esteve. Seu discurso anterior não a autoriza a aprovar o ex-presidente do BankBoston Henrique Meirelles para o BC. Um defeito que a senadora petista não tem é o da incoerência.
O mesmo não se pode dizer de Lula e da direção petista -sem fazer juízo de valor sobre se a posição atual é melhor ou pior. O fato é que os líderes do PT ainda devem explicação sobre o que pensavam até anteontem.
Logo depois que Armínio Fraga foi indicado presidente do BC, em 99, Lula disse se tratar de uma "subordinação total, concreta" do país à "agiotagem internacional".
O senador eleito Aloizio Mercadante atacou o BankBoston. Em novembro de 99, escreveu um artigo nesta Folha. Eis um trecho: "Grandes bancos internacionais [entre os quais o BankBoston" compraram grandes valores em dólar às vésperas da desvalorização e depois dirigiram o ataque especulativo contra o real". Nada ficou provado e ninguém mais na direção do PT fala em investigar.
O presidente do PT, José Genoino, foi duro com Armínio Fraga. Na Folha, em fevereiro de 99, produziu a seguinte avaliação negativa: "A nomeação do novo presidente do BC, oriundo do mercado financeiro, reforça a velha promiscuidade entre o público e o privado. Armínio Fraga não terá condições de estabilizar a política cambial".
Substitua o nome de Armínio Fraga pelo de Henrique Meirelles na frase de Genoino e Heloísa Helena ficará feliz. Esse é o ponto.
A direção do PT poderia convocar uma entrevista coletiva, Lula à frente, para dizer em jogral: "Erramos. Falamos bobagem no passado. Agora, pensamos diferente". Enquanto não fizerem isso, é deslealdade cobrar apoio cego de Heloísa Helena.


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