|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SADDAM E A RESISTÊNCIA
Ainda é uma incógnita o impacto que a prisão de Saddam
Hussein terá sobre a política iraquiana, mas já parece mais ou menos certo que não deverá produzir muitos
efeitos sobre a resistência à ocupação
norte-americana. O próprio presidente George W. Bush foi cauteloso
ao mencionar os possíveis resultados da captura sobre a situação da
segurança no país. Tinha razão. Já
houve pelo menos um grande atentado em Bagdá posterior ao anúncio da
captura do ex-ditador.
Os membros da resistência se dividem em três grandes grupos: estrangeiros ligados à rede terrorista Al
Qaeda, estrangeiros e iraquianos
com forte sentimento anti-EUA e iraquianos ligados ao antigo regime. A
rigor, seria apenas sobre os últimos
que a prisão de Saddam poderia ter
repercussões mais importantes. Seja
como for, não deverão ficar acéfalos
com a detenção de seu líder. As péssimas condições e a situação de isolamento em que o ex-ditador foi encontrado sugerem que já era praticamente nulo o seu papel na coordenação dos ataques.
Paradoxalmente, a captura pode
até dar margem ao crescimento da
oposição de iraquianos à presença
das tropas norte-americanas no país.
É que a ameaça de uma volta do antigo regime empurrava para o lado dos
EUA importantes lideranças xiitas,
grupo que congrega cerca de 60% da
população. Sem Saddam, alguns clérigos xiitas e seus seguidores podem
sentir-se livres para protestar contra
a ocupação norte-americana.
Por estranho que possa parecer, o
espectro da volta de Saddam dava liga ao mosaico que é o Conselho de
Governo Iraquiano, o arremedo de
governo iraquiano reunido pelos
EUA. Com efeito, era principalmente
o medo de uma volta de Saddam que
unia xiitas, curdos, sunitas que estiveram no exílio, cristãos, e turcomenos representados no Conselho. O
tempo dirá como agirão a partir de
agora sem o inimigo comum.
Texto Anterior: Editoriais: CLONAGEM PARA O BEM Próximo Texto: Montevidéu - Clóvis Rossi: Lula e Kirchner, Kirchner e Lula Índice
|