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São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

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SADDAM E A RESISTÊNCIA

Ainda é uma incógnita o impacto que a prisão de Saddam Hussein terá sobre a política iraquiana, mas já parece mais ou menos certo que não deverá produzir muitos efeitos sobre a resistência à ocupação norte-americana. O próprio presidente George W. Bush foi cauteloso ao mencionar os possíveis resultados da captura sobre a situação da segurança no país. Tinha razão. Já houve pelo menos um grande atentado em Bagdá posterior ao anúncio da captura do ex-ditador.
Os membros da resistência se dividem em três grandes grupos: estrangeiros ligados à rede terrorista Al Qaeda, estrangeiros e iraquianos com forte sentimento anti-EUA e iraquianos ligados ao antigo regime. A rigor, seria apenas sobre os últimos que a prisão de Saddam poderia ter repercussões mais importantes. Seja como for, não deverão ficar acéfalos com a detenção de seu líder. As péssimas condições e a situação de isolamento em que o ex-ditador foi encontrado sugerem que já era praticamente nulo o seu papel na coordenação dos ataques.
Paradoxalmente, a captura pode até dar margem ao crescimento da oposição de iraquianos à presença das tropas norte-americanas no país. É que a ameaça de uma volta do antigo regime empurrava para o lado dos EUA importantes lideranças xiitas, grupo que congrega cerca de 60% da população. Sem Saddam, alguns clérigos xiitas e seus seguidores podem sentir-se livres para protestar contra a ocupação norte-americana.
Por estranho que possa parecer, o espectro da volta de Saddam dava liga ao mosaico que é o Conselho de Governo Iraquiano, o arremedo de governo iraquiano reunido pelos EUA. Com efeito, era principalmente o medo de uma volta de Saddam que unia xiitas, curdos, sunitas que estiveram no exílio, cristãos, e turcomenos representados no Conselho. O tempo dirá como agirão a partir de agora sem o inimigo comum.


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