São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2003 |
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TENDÊNCIAS E DEBATES Mínimos de civilidade
ALDAÍZA SPOSATI
As metrópoles mundiais estimam em 1% de sua população total aqueles que vivem nas ruas. Aos 10.677.019 cidadãos estimados para 2003, é preciso acrescer 10.394 em situação de rua. Somos, portanto, 10.687.413 habitantes em São Paulo. Por certo essa não é uma boa notícia, mas é preciso ter a coragem de afirmar que cuidar de São Paulo significa incluir todos os que nela vivem sem nenhuma distinção ou discriminação. Essa é uma atitude civilizatória. O resultado do censo da população de rua contratado com a Fipe pela Prefeitura de São Paulo mostra novos sinais. Se, em 2000, das 8.706 pessoas em situação de rua, 58% viviam nas ruas, pois somente 42% tinham vagas em albergues, a situação se inverteu em 2003. Cresceu o número de pessoas em situação de rua na cidade -hoje são 10.394, como já dito- , mas é menor o número dos que estão vivendo nas ruas. Aumentou a rede de serviços, a capacidade de acolhida e a reconstrução da autonomia. Mulheres, homens, doentes, catadores com carrinhos ou animais têm novas alternativas para reconstruir suas vidas e sua autonomia. Hoje, 60% frequentam a rede de proteção social mantida com financiamento público em parceria com a sociedade civil. Em três anos a prefeitura ampliou em 18% a inclusão social ou em 60% a oferta de vagas em albergues. Para além da crise econômica, do desemprego, o esgarçamento de relações familiares e afetivas leva à solidão e ao abandono. O álcool, a droga, o jogo são as principais razões pelas quais mais de 400 cidadãos com nível universitário -advogados, médicos, jornalistas, entre outras tantas profissões exercidas- chegam a viver na rua. Essa rede não é todavia asilar ou assistencialista, mas sim o caminho de uma nova política de assistência social centrada no direito de cidadania, na autonomia e integrada a outras políticas municipais no campo da saúde, cultura, trabalho, educação e habitação. Idosos ex-albergados são hoje agentes comunitários que cuidam de outros idosos moradores em área de risco; ex-moradores de rua recapacitados executam serviços de manutenção das instalações de albergues como o do Canindé; o Programa Ação Centro, em proposta de financiamento pelo BID, inclui o Projeto Oficina Boracea; moradias provisórias, locadas pela prefeitura, funcionam como repúblicas onde se auto-sustentam grupos de 10 a 15 ex-moradores de rua; repúblicas terapêuticas cuidam daqueles com problemas de saúde mental; comunidade agrícola na zona Sul restaura ex-drogaditos e alcoolistas e cria novas formas de convívio e autonomia. Há ainda muito por fazer, mas São Paulo mostra que, com coragem, transparência e responsabilidade pública do governo da cidade e a presença da responsabilidade social da sociedade, é possível construir nova civilidade. Aldaíza Sposati, 56, professora titular da Faculdade de Assistência Social da PUC-SP, é a secretária de Assistência Social da Prefeitura do Município de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS E DEBATES Olavo de Carvalho: A grandeza de Josef Stálin Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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