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AUTONOMIA DO BC
A discussão a respeito da chamada autonomia do Banco
Central é relevante. O principal argumento dos que defendem um regime
mais radical de independência da
instituição é a necessidade de criar
uma espécie de blindagem da autoridade monetária em relação ao poder
político. O BC defenderia a moeda da
maneira que melhor entendesse sem
precisar ceder a eventuais tentações
políticas do governo.
Para tanto, seriam criadas rígidas
restrições à capacidade de o Executivo influir na instituição. Além de fazer com que os mandatos do "staff"
do BC não coincidissem com o do
presidente da República, a cúpula do
banco seria praticamente indemissível antes do término da gestão.
Não há dúvida de que o BC precisa
seguir critérios econômicos e rejeitar
aventuras populistas em sua linha de
atuação. É ilusória, no entanto, a
idéia de que é possível uma gestão
simplesmente "técnica", neutra, da
política monetária. É mais do que razoável que um governo democraticamente eleito -e submetido à fiscalização do Legislativo e do Judiciário- possa dispor dos instrumentos
de política econômica para implementar suas propostas. A impossibilidade de fazê-lo também seria uma
fonte potencial de conflito entre o
governo federal e a instituição.
Na prática, o BC no Brasil tem atuado com considerável autonomia
operacional e patrimonial. É aceitável que se discutam alguns critérios
relativos a mandatos e demissões
-desde que, obviamente, eles não
impeçam o presidente da República
de exercer sua autoridade na área
econômica. É essa a opinião manifestada pelo próprio ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso na semana passada -quando relembrou
a crise por ele enfrentada em 1999.
A insistência na autonomia tem
servido também para ocupar o espaço de um debate mais produtivo
acerca do aperfeiçoamento do BC.
Temas como a quase inexistência de
funcionários de carreira capazes de
presidir a instituição (em geral entregue a quadros recrutados do sistema
financeiro privado), passividade e
deficiência na supervisão do sistema
bancário, problemas de transparência e de qualidade nos modelos e informações econômicas utilizados
são, entre outros, aspectos que deveriam merecer maior atenção.
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