São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

O poder de São Paulo

SÃO PAULO - FHC nasceu no Rio, Lula em Pernambuco. Mas a carreira dos dois foi incubada no ambiente de centro-esquerda da política paulistana: USP, Cebrap, sindicatos, esquerda católica, alta burocracia intelectualizada do setor privado. Só na República Velha São Paulo esteve mais tempo no poder que agora, com FHC-Lula. Nessa torrente de pieguice e orgulho afetados que é a mídia dos 450 anos, pouco se tratou da curiosa história do poder desta cidade.
De Vargas até o último ditador, a elite paulista quase não teve cadeiras no centro do poder formal. Não teve presidentes afora Jânio Quadros, um tipo extraterritorial. Mas foi São Paulo a beneficiária maior e exemplar do desenvolvimento nacional, ilha de consumo de carros e bens domésticos cercada de uma inundação de esperanças frustradas na figura de seus migrantes pobres.
Mas a indústria e a finança paulista estiveram no Conselho Monetário Nacional da ditadura militar. Tiveram Delfim; a inflação, os subsídios e o protecionismo que fizeram a fortuna de seus industriais.
Curioso é que na abertura liberal, depois de 90, os cariocas quase sempre ocuparam as fontes reais do poder, a Fazenda e o Banco Central. Formaram-se na boa tradição das escolas de economia do Rio. Vieram de uma cidade em que sempre dominou o comércio, a finança e a burocracia. Esses tecnocratas-financistas presidiram o naufrágio do crescimento industrial (embora paulistas e cariocas tenham sido cúmplices no desastre econômico da Nova República).
Mas Fazenda e BC fundam seu poder no convívio desembaraçado com o mercado financeiro, quase todo tão paulistano como a pizza, os carroceiros e os motoboys. Mais: desde FHC, a burocracia federal é tomada por quadros paulistas-paulistanos.
No final da história, tudo se passa como se as elites paulistas chegassem para radicalizar a modernização conservadora, que sempre foi a história do Brasil pós-Vargas, mas jogando pela janela o que prestava no período: algum desenvolvimento econômico, que de resto fez São Paulo a cidade mais rica do país.


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