|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
O poder de São Paulo
SÃO PAULO - FHC nasceu no Rio, Lula em Pernambuco. Mas a carreira
dos dois foi incubada no ambiente de
centro-esquerda da política paulistana: USP, Cebrap, sindicatos, esquerda católica, alta burocracia intelectualizada do setor privado. Só na República Velha São Paulo esteve mais
tempo no poder que agora, com
FHC-Lula. Nessa torrente de pieguice
e orgulho afetados que é a mídia dos
450 anos, pouco se tratou da curiosa
história do poder desta cidade.
De Vargas até o último ditador, a
elite paulista quase não teve cadeiras
no centro do poder formal. Não teve
presidentes afora Jânio Quadros, um
tipo extraterritorial. Mas foi São
Paulo a beneficiária maior e exemplar do desenvolvimento nacional,
ilha de consumo de carros e bens domésticos cercada de uma inundação
de esperanças frustradas na figura de
seus migrantes pobres.
Mas a indústria e a finança paulista estiveram no Conselho Monetário
Nacional da ditadura militar. Tiveram Delfim; a inflação, os subsídios e
o protecionismo que fizeram a fortuna de seus industriais.
Curioso é que na abertura liberal,
depois de 90, os cariocas quase sempre ocuparam as fontes reais do poder, a Fazenda e o Banco Central.
Formaram-se na boa tradição das escolas de economia do Rio. Vieram de
uma cidade em que sempre dominou
o comércio, a finança e a burocracia.
Esses tecnocratas-financistas presidiram o naufrágio do crescimento industrial (embora paulistas e cariocas
tenham sido cúmplices no desastre
econômico da Nova República).
Mas Fazenda e BC fundam seu poder no convívio desembaraçado com
o mercado financeiro, quase todo tão
paulistano como a pizza, os carroceiros e os motoboys. Mais: desde FHC,
a burocracia federal é tomada por
quadros paulistas-paulistanos.
No final da história, tudo se passa
como se as elites paulistas chegassem
para radicalizar a modernização
conservadora, que sempre foi a história do Brasil pós-Vargas, mas jogando pela janela o que prestava no período: algum desenvolvimento econômico, que de resto fez São Paulo a
cidade mais rica do país.
Texto Anterior: Editoriais: FUGA DE CÉREBROS
Próximo Texto: Brasília - Gustavo Patú: O sexo do BC Índice
|