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FUGA DE CÉREBROS
Não são apenas os brasileiros
que se queixam dos cada vez
mais rígidos procedimentos burocráticos para entrar nos EUA. A revista britânica "Nature" traz como um
de seus destaques da semana passada reportagem sobre as dificuldades
que pesquisadores estrangeiros vêm
tendo para estudar ou trabalhar na
América. O texto da "Nature" chega
mesmo a aventar a possibilidade de
mudanças no balanço de poder da
ciência, dado que muitos cientistas
de ponta têm procurado outros países para seguir com seu trabalho.
Não há estatísticas sistemáticas sobre a possível evasão de cérebros,
mas existem alguns indicadores sugestivos. No ano acadêmico de 2002-03, pela primeira vez em quase uma
década, houve um declínio no número de professores-visitantes nos
EUA. Segundo o Instituto Americano de Física, cerca de 1/4 dos estudantes estrangeiros que pediram visto para seguir programas de doutorado em física nos EUA tiveram suas
requisições inicialmente negadas.
A "Nature" levantou ainda vários
casos de pesquisadores com diferentes perfis que tiveram problemas. A
questão fica particularmente grave
quando o objeto de pesquisa é em
áreas consideradas sensíveis pelas
agências de segurança, como as correlatas a armas biológicas ou químicas. Dado que burocracias tendem a
ser burras, as checagens extras de segurança acabam atingindo também
pesquisadores em campos inofensivos da química e da microbiologia.
O problema é especialmente grave
para cientistas de países tidos como
suspeitos, isto é, todos os do Oriente
Médio e a China. Alguns desses pesquisadores estão trocando os EUA
por países como o Canadá, o Reino
Unido e a Austrália.
A supremacia dos EUA nas ciências
é tal que não se pode falar hoje em
mudança no balanço de poder. Eles
podem dar-se ao luxo de perder milhares de cérebros e continuar em
primeiro lugar. Se, contudo, os entraves para os pesquisadores estrangeiros se tornarem uma tendência,
os EUA poderão vir a ter sua preponderância científica atingida.
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