São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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FUGA DE CÉREBROS

Não são apenas os brasileiros que se queixam dos cada vez mais rígidos procedimentos burocráticos para entrar nos EUA. A revista britânica "Nature" traz como um de seus destaques da semana passada reportagem sobre as dificuldades que pesquisadores estrangeiros vêm tendo para estudar ou trabalhar na América. O texto da "Nature" chega mesmo a aventar a possibilidade de mudanças no balanço de poder da ciência, dado que muitos cientistas de ponta têm procurado outros países para seguir com seu trabalho.
Não há estatísticas sistemáticas sobre a possível evasão de cérebros, mas existem alguns indicadores sugestivos. No ano acadêmico de 2002-03, pela primeira vez em quase uma década, houve um declínio no número de professores-visitantes nos EUA. Segundo o Instituto Americano de Física, cerca de 1/4 dos estudantes estrangeiros que pediram visto para seguir programas de doutorado em física nos EUA tiveram suas requisições inicialmente negadas.
A "Nature" levantou ainda vários casos de pesquisadores com diferentes perfis que tiveram problemas. A questão fica particularmente grave quando o objeto de pesquisa é em áreas consideradas sensíveis pelas agências de segurança, como as correlatas a armas biológicas ou químicas. Dado que burocracias tendem a ser burras, as checagens extras de segurança acabam atingindo também pesquisadores em campos inofensivos da química e da microbiologia.
O problema é especialmente grave para cientistas de países tidos como suspeitos, isto é, todos os do Oriente Médio e a China. Alguns desses pesquisadores estão trocando os EUA por países como o Canadá, o Reino Unido e a Austrália.
A supremacia dos EUA nas ciências é tal que não se pode falar hoje em mudança no balanço de poder. Eles podem dar-se ao luxo de perder milhares de cérebros e continuar em primeiro lugar. Se, contudo, os entraves para os pesquisadores estrangeiros se tornarem uma tendência, os EUA poderão vir a ter sua preponderância científica atingida.


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