São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Política agrária: uma visão histórica
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES
Atualmente discute-se muito a distribuição de terras, mas não se presta a devida atenção aos inúmeros entraves existentes à agricultura, que muitas vezes acabam por inviabilizar a manutenção das atividades. O agricultor paga por ser altamente competente na sua atividade. Além das elevadas taxa de juros e carga tributária, da dificuldade de acesso ao crédito rural e do desmantelamento da assistência técnica, os produtores enfrentam exigências descabidas na área ambiental e rígidas na trabalhista. O governo impõe regras em muitos casos abusivas, sobrecarregando os produtores com ônus e obrigações que, na maioria das vezes, são atribuições do poder público. O país necessita de uma política agrícola e agrária que alcance os produtores dentro de uma visão de unidade para o desenvolvimento harmônico. O Pronaf pode ser um importante instrumento em benefício do produtor familiar, do trabalhador e do assentado, aplicando a assistência técnica, disponibilizando infra-estrutura e apoio à comercialização do produto. Fornecer condições básicas à manutenção dos agricultores na atividade é uma questão de justiça e de segurança na geração de emprego e renda e, assim, fortalece o trabalhador. Parece-nos muito mais sensato que se estanque a evasão dos pequenos e micro produtores rurais do campo, dando-lhes condições dignas e suficientes para produzirem e sustentarem suas famílias, antes de dar continuidade a esse modelo que só distribui terras e não resolveu as questões centrais do problema agrário brasileiro. Atualmente, os distúrbios políticos gerados por movimentos radicais apenas criam dificuldades para a realização de investimentos no setor, que tem sido o sustentáculo das contas externas brasileiras. Em 2003, as exportações do agronegócio foram responsáveis diretas pela totalidade do superávit de US$ 24,8 bilhões da balança comercial do país. Graças ao nosso Deus, Deus brasileiro, e aos ancestrais que implantaram essa notável agropecuária, possuímos a mais avançada agricultura dos trópicos. O agronegócio, que se iniciou, na minha visão, na década de 20, avançando pelos anos 60, 70 e 80, não teria alcançado os resultados tão fantásticos de hoje sem essa sólida e avançada base produtiva. A agricultura brasileira necessita que se conduza de forma competente a política agrícola e agrária. Uma política agrícola sólida e consistente é o ideal. A base de sustentação da economia brasileira não deve passar por períodos de instabilidade. É importante frisarmos que o setor agrícola atingiu estágio avançado em termos das necessidades do país e do mercado externo. Sem levar em conta essa análise preliminar, poderá ocorrer o comprometimento do desenvolvimento do agronegócio, na área socioeconômica, particularmente no abastecimento e na geração de emprego e renda. Fábio de Salles Meirelles, 69, advogado e agropecuarista, é presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, vice-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e membro da Academia Brasileira de Agricultura. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Edmundo Klotz: A indústria da alimentação em 2004 Índice |
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