São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A indústria da alimentação em 2004

EDMUNDO KLOTZ

Expansão das exportações e melhoria do poder aquisitivo serão os fatores que impulsionarão a indústria alimentícia em 2004 -diferentemente de 2003, quando o fluxo de investimentos diretos fechou em cerca de US$ 8 bilhões, com tendência de praticamente dobrar neste ano, fato que poderá contribuir para manter a cotação cambial estável ou com ligeira desvalorização. Isso irá sustentar o estímulo às importações, em especial de máquinas e equipamentos, como já ocorre.
Por conta desse novo cenário, nós acreditamos que a indústria de alimentos terá um mercado interno com maior demanda. Se isso ocorrer, irá beneficiar o setor varejista e o de alimentação fora do lar ("food service"), os mais afetados ao longo de 2003, com projeções de incremento neste ano, diante de uma inflação prevista de apenas um dígito.
Isso significa que a indústria da alimentação deverá registrar um crescimento real nas vendas entre 5% e 6% sobre 2003. Consequentemente, o faturamento, estimado em R$ 150 bilhões no ano passado, passaria para R$ 168 bilhões em 2004. É bom ressaltar que o desempenho em 2003 foi promovido por expansão nas vendas externas de 20% contra uma inflação acumulada no ano estimada em 9,9% (IPCA). O volume produzido, por sua vez, obteve, de acordo com dados até outubro, acréscimo de 2,44% em relação a 2002.
As oportunidades para as indústrias do setor certamente serão seletivas e diferenciadas. A próxima safra agrícola terá um tênue acréscimo -cerca de 4% sobre as 120 milhões de toneladas de grãos colhidas em 2003-, com diferenças acentuadas entre os produtos (soja cresce; milho cai; feijão abaixo da demanda). A discrepância entre o mercado interno e externo poderá ser alterada em 2004, a despeito do aumento do volume em ambos os mercados. Os preços dos alimentos exportados (açúcar, óleo, suco) poderão cair neste ano.
No mercado doméstico, a queda da inflação proporcionará aumento da atividade econômica, redução do nível de desemprego, uma recuperação dos salários reais e crescimento do consumo interno. E, finalmente, a queda na taxa de juros possibilitará a ampliação do crédito a todos os setores da economia.


O que é vital para a economia real e o setor produtivo é a manutenção da queda gradual das taxas de juros


Restam apenas algumas incógnitas para a correta previsão de como será o desempenho macroeconômico que afetará a indústria brasileira da alimentação. Caso o marco regulatório para os investimentos em infra-estrutura seja finalmente definido, o ciclo de reformas persista e o crescimento da economia americana se mantenha, encontraremos um terreno fértil para a expansão do mercado interno.
É óbvio que a escolha do setor exportador por parte do governo Lula como promotor do crescimento econômico encontrará uma política econômica, comercial e financeira positiva para a promoção das exportações brasileiras.
E as condições estruturais da economia mundial, com grande disponibilidade de crédito e capitais (as taxas de juros internacionais nunca estiveram tão baixas), poderão permitir ainda maior entrada de capital estrangeiro no país, com o aumento concomitante da demanda pelo crescimento da atividade econômica, mantendo o dólar relativamente estável, o que contribuirá para a redução da inflação.
Todavia o que é vital para a economia real e o setor produtivo é a manutenção da queda gradual das taxas de juros como estímulo à expansão econômica, a redução do do nível de desemprego e a inclusão social. Como bem dizem os analistas do mercado financeiro, a prudência e a tomada de decisões por parte do Banco Central que não surpreendam negativamente o mercado poderão incentivar a retomada do aquecimento do mercado interno e trazer mudanças significativas à indústria da alimentação.

Edmundo Klotz, 68, engenheiro químico, é presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação).


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