São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Um bom curativo

SÃO PAULO- Agora que o mundo oficial parece ter se lembrado dos vícios do nepotismo (presentes na pátria a rigor desde a carta de Pero Vaz de Caminha comunicando a descoberta), vale defender solução mais abrangente, apontada pelo leitor Isnaldo Piedade de Faria no "Painel do Leitor" de ontem:
"Caso houvesse uma real intenção de moralização, seriam suficientes medidas que tornassem a maioria de tais cargos , hoje de livre nomeação, em privativos de servidores selecionados por concursos públicos, deixando para livre escolha apenas os poucos cargos em que a estrita confiança da autoridade seja imperativa. Enquanto houver essa pletora de cargos comissionados e de servidores terceirizados, a pouca vergonha continuará a imperar nos três Poderes".
Para o meu gosto, não ficaria nem essa brecha dos cargos de "estrita confiança". Funcionário público, graduado ou não, tem que confiar é no Estado a que serve e na sua capacidade de lhe fornecer assessores qualificados, em vez de confiar nos seus amigos e correligionários.
A sugestão, como fica claro no final, vale não apenas para o Judiciário, mas para todos os Poderes.
É claro que não acabaria a corrupção. Um país com a cultura política podre como é a do Brasil permanecerá vulnerável, mais vulnerável do que países mais sólidos institucionalmente e nos quais, por extensão, é menor a impunidade dos poderosos.
É claro também que funcionário devidamente concursado comete atos de corrupção.
Não se trata, portanto, da pomada maravilha que cura todos os males, uma fórmula em que brasileiro adora acreditar, mesmo que todas as evidências a contrariem.
Mas seria um curativo importante. Se é verdade que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, o poder de nomear discricionariamente corrompe mais do que o limite imposto pela obrigatoriedade de trabalhar com quem ganhou o posto por seus méritos.


@ - crossi@uol.com.br


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