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VINICIUS MOTA
Independência ou letargia
SÃO PAULO - Durante os quatro
anos da gestão Lula, o Brasil se livrou do FMI e derrubou a dívida externa. A ação do governo foi neutra
para a obtenção desse resultado. O
dilúvio de dólares, propiciado pelo
mais exuberante ciclo de crescimento mundial em três décadas, fez
todo o serviço.
Políticos, porém, não estão obrigados a seguir a distinção lógica entre o "depois de" e o "por causa de".
Na campanha pela reeleição, o "Fora FMI" de outrora (a bravata do calote) ganhou roupa nova -afinal,
não só pagamos tudo aos burocratas de Washington como antecipamos a fatura. Pasteurizado, o júbilo
nacionalista foi mantido.
O curioso é esse furor autonomista não ter-se repetido em relação
aos credores brasileiros do Estado.
"Fora bancos" ou "Fora famílias ricas" ou "Fora fundos de pensão"
não fizeram parte, ao que consta,
dos bordões da campanha petista.
Justamente aí a ação do governo
pode fazer grande diferença.
Calote neles? Alongamento forçado neles? Nada disso. Além da
balbúrdia que um repeteco de Plano Collor produziria, não daria conta da seguinte questão: o Estado
continuaria precisando de dinheiro
emprestado, pois gasta além do que
arrecada. Teria de recorrer às mesmas fontes (bancos, famílias ricas,
fundos de pensão), provavelmente
a um custo (juros) mais alto.
A saída para a independência financeira do poder público é a de
qualquer ente endividado demais
-apertar o cinto do gasto e obter
saldos no fim do mês para abater a
dívida. O governo brasileiro ainda
dispõe de uma ferramenta adicional: baixar os juros básicos, que corrigem 40% dos títulos federais.
Diante do emagrecimento do Estado, bancos, famílias ricas e fundos
de pensão iriam procurar outra freguesia para investir seus recursos.
Em vez de despejá-los no moto-perpétuo da dívida pública, teriam
de emprestá-los a quem emprega e
produz. Aumentar a participação
do salário na economia é uma política de esquerda.
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