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MELCHIADES FILHO
Esquerda festiva
BRASÍLIA - O mensalão ainda
causa embaraços entre o eleitorado
da classe média e nas grandes cidades. Lideranças do PT concluem
que, para crescer, é preciso tirar o
pó da cartilha dos anos 80 e centrar
fogo na mobilização das "massas
desorganizadas" contempladas pelo Bolsa Família. A palavra "socialismo" reaparece no documento de
todas as correntes e vira título do
vídeo de aniversário do partido.
Novidade da legislatura, o bloquinho (PSB, PCdoB e quetais) tenta se
estabelecer como trampolim de um
candidato à Presidência. Dele partem os alertas mais estridentes sobre os "riscos à população" embutidos no PAC. Ciro Gomes, o principal nome, manteve-se de fora dos
ministérios para ficar de prontidão
na Câmara para criticar os "refluxos conservadores" do governo.
Já se falou do governador pragmático, a quem interessaria abafar
as investigações do caso sanguessuga/dossiê, amestrar a Assembléia
Legislativa e azeitar o convívio com
o Planalto. Mas outra teoria na praça diz que Serra se aproximou do
PT como uma estratégia de "posicionamento de mercado". Se não dá
para convencer o público de que ele
é e sempre foi menos conservador
do que Lula, ao menos fixa distância
do "privatista" FHC.
O PSDB, subitamente envergonhado, começa a se afastar do PFL.
Este abandona o "liberal" e adota o
nome do partido "menos de direita"
dos EUA. O PDT vira braço político
das centrais sindicais que ainda não
baixaram os megafones. O PTB retoma causas dos celetistas.
Um a um, os partidos deslocam os
palanques para a esquerda. Traumatizados pelo segundo turno de
2006 e/ou atordoados pela popularidade recorde (e ainda ascendente) do presidente, eles se acotovelam para radicalizar ou no mínimo
mimetizar o discurso de Lula.
Não espanta que o Planalto tenha
avisado que não precisa mais da reforma política. Agora são todos pelo
social e ninguém pelo debate.
mfilho@folhasp.com.br
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