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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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VALDO CRUZ

Rumo ao desconhecido

BRASÍLIA - E lá vamos nós, de novo, rumo ao desconhecido, afetados mais uma vez por algo totalmente fora do nosso controle: a guerra no Iraque. Apesar do otimismo do mercado, o conflito pode não ser rápido e poderá mudar o humor dos investidores -o que deixa apreensivos Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe. Afinal, o imponderável surge na hora errada, quando o vento começava a soprar a favor dos petistas.
O discurso da reação já estava pronto: a inflação deu sinais de queda, o dólar ficou abaixo dos R$ 3,50, o crédito internacional voltou, a dívida pública caiu, o risco-país cedeu e o superávit comercial subiu.
Indicadores de uma (tênue) virada que permitiria a queda das taxas de juros talvez ainda neste semestre. Cenário propício para apagar a imagem de que Lula seria um clone de FHC, o que tanto o incomoda.
A guerra, porém, turva o ambiente e lança dúvidas sobre a sustentabilidade da reação. Se for rápida, como muitos prevêem, pode até ser positiva, ou neutra, para o Brasil.
Mas pode ser negativa se for prolongada, gerando conflitos internos na região e ataques terroristas mundo afora, o que não é impossível.
Aí, qual o caminho a tomar? Antonio Palocci não tem dúvidas: persistir no atual, mesmo que isso represente novos desgastes. Ou seja, os juros podem até subir, em vez de cair.
Segundo Palocci confidenciou a interlocutores, Lula está ciente disso. E o apóia na decisão. O discurso, nesse caso, é o óbvio. Atropelados por algo fora do controle, não há outro caminho a não ser apertar o cinto.
Alguém dirá que há, sim, uma alternativa. Mas não com Palocci. Um plano B, para o ministro da Fazenda, "é centralização cambial, controle de capitais, isso não faremos", tem repetido nas reuniões reservadas.
Quando será que o país estará imune aos efeitos externos? No dia em que não depender mais de capital estrangeiro. Até lá, qualquer política econômica fora da atual quebra o país em três dias, vaticina Delfim Netto (PPB-SP). Melhor não duvidar.


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