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ELIANE CANTANHÊDE
Um sonho?
BRASÍLIA - No salão azul do Senado, o clima é de guerra. No salão verde da Câmara, centenas de oficiais da
Aeronáutica, alguns da Marinha e outros do Exército circulavam ontem satisfeitos com a homenagem da Câmara à Força Aérea Brasileira.
Outros tempos. Não faz muito, os
militares fechavam o Congresso ou
manipulavam suas mentes, almas e
votações. Não faz muito, também, o
Congresso escondia suas mazelas debaixo dos tapetes, fossem azuis e verdes, e ficava por isso mesmo.
Agora, não só os militares confraternizam com os políticos como os
políticos estão no alvo de denúncias,
investigações, suspeitas. Lentamente
também de punições. De vez em
quando, um ou outro acorda vendo o
sol nascer quadrado.
As denúncias contra o presidente
do Senado, Jader Barbalho, do
PMDB, contra o seu antecessor Antonio Carlos Magalhães, do PFL, e agora contra o líder do governo, José Roberto Arruda, do PSDB, são graves.
O PMDB argumenta que não há
provas contra Jader, o PFL jura que
acredita na palavra de ACM de que
não violou sigilo de votação nenhuma, o PSDB garante que Arruda terá,
ou teria, bons álibis. E nem passa pela cabeça do PT admitir que a senadora Heloísa Helena tenha votado
contra a cassação de Luiz Estevão.
Sendo assim, tudo isso que nós escrevemos daqui e você lê daí não passou de um sonho. Ou de um pesadelo,
para os envolvidos. Na vida real, são
todos absolutamente inocentes e nada vai acontecer no Senado.
Essa é, de fato, uma possibilidade.
Na verdade, a principal possibilidade. Mas não uma aposta. O destino
de ACM, Jader e Arruda está nas
mãos de algumas dezenas de senadores sujeitos a duas pressões: a dos seus
partidos, a favor deles, e a dos seus
eleitores, contra.
ACM, Jader e Arruda podem até ser
cassados. E, se não forem, jamais serão os mesmos. ACM e Jader atiraram um no outro e acertaram em
cheio. Arruda foi alvo de bala perdida e corre perigo. Entraram nessa como donos do mundo, estão saindo
com desculpas esfarrapadas.
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