São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

Um sonho?

BRASÍLIA - No salão azul do Senado, o clima é de guerra. No salão verde da Câmara, centenas de oficiais da Aeronáutica, alguns da Marinha e outros do Exército circulavam ontem satisfeitos com a homenagem da Câmara à Força Aérea Brasileira.
Outros tempos. Não faz muito, os militares fechavam o Congresso ou manipulavam suas mentes, almas e votações. Não faz muito, também, o Congresso escondia suas mazelas debaixo dos tapetes, fossem azuis e verdes, e ficava por isso mesmo.
Agora, não só os militares confraternizam com os políticos como os políticos estão no alvo de denúncias, investigações, suspeitas. Lentamente também de punições. De vez em quando, um ou outro acorda vendo o sol nascer quadrado.
As denúncias contra o presidente do Senado, Jader Barbalho, do PMDB, contra o seu antecessor Antonio Carlos Magalhães, do PFL, e agora contra o líder do governo, José Roberto Arruda, do PSDB, são graves.
O PMDB argumenta que não há provas contra Jader, o PFL jura que acredita na palavra de ACM de que não violou sigilo de votação nenhuma, o PSDB garante que Arruda terá, ou teria, bons álibis. E nem passa pela cabeça do PT admitir que a senadora Heloísa Helena tenha votado contra a cassação de Luiz Estevão.
Sendo assim, tudo isso que nós escrevemos daqui e você lê daí não passou de um sonho. Ou de um pesadelo, para os envolvidos. Na vida real, são todos absolutamente inocentes e nada vai acontecer no Senado.
Essa é, de fato, uma possibilidade. Na verdade, a principal possibilidade. Mas não uma aposta. O destino de ACM, Jader e Arruda está nas mãos de algumas dezenas de senadores sujeitos a duas pressões: a dos seus partidos, a favor deles, e a dos seus eleitores, contra.
ACM, Jader e Arruda podem até ser cassados. E, se não forem, jamais serão os mesmos. ACM e Jader atiraram um no outro e acertaram em cheio. Arruda foi alvo de bala perdida e corre perigo. Entraram nessa como donos do mundo, estão saindo com desculpas esfarrapadas.



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