São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

Passo atrás na direção certa

RIO DE JANEIRO - Sempre há tempo de dar um passo atrás na direção certa. O exemplo mais notável dessa mudança de rumo é o do jovem Saulo de Tarso, que literalmente caiu do cavalo a caminho de Damasco e tornou-se Paulo, mais tarde São Paulo. Entre outras consequências, ganharia um Estado federativo no Brasil e uma folha com o nome dele.
Pulando para exemplos mais recentes, temos os casos de Ulysses Guimarães e de Teotônio Vilela. O primeiro, em abril de 64, achou que a cassação dos direitos políticos de seus adversários deveria durar mais do que os dez anos prescritos no Ato Institucional daquele ano.
Financiado por usineiros e latifundiários de Alagoas, Teotônio armou 5.000 jagunços para invadir Pernambuco caso o governador Miguel Arraes resistisse ao golpe de 1º de abril.
São fatos sabidos, mas pouco lembrados. Tanto um como outro ficarão na história como dois combatentes da causa democrática. Cada um, a seu modo, foi herói do nosso tempo.
Bolas! Por que estou lembrando isso? Porque sempre há tempo para reparar um erro, rever uma posição, mudar de lado. Evidente que muitos mudam de lado por conveniência, e não por reflexão. O exemplo mais à mão que me vem à cabeça é exatamente aquele em que o leitor está pensando.
Sobrevivente involuntário daqueles dias de abril de 64, ocupando a frágil trincheira do único jornal que resistiu ao golpe, foi com alegria que, anos depois, em 1968, com o AI-5, vi que o número de resistentes aumentara, grandes jornais do Rio e de São Paulo mudaram de lado. E foram vítimas de violência e censura.
Otto Maria Carpeaux, que era companheiro de trincheira desde 64, tinha temperamento sanguíneo, achava que os novos aliados não mereciam confiança. Foi das poucas vezes que discordei dele.


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