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CARLOS HEITOR CONY
Passo atrás na direção certa
RIO DE JANEIRO - Sempre há tempo de dar um passo atrás na direção certa. O exemplo mais notável dessa mudança de rumo é o do jovem Saulo de Tarso, que literalmente caiu do cavalo a caminho de Damasco e tornou-se Paulo, mais tarde São Paulo.
Entre outras consequências, ganharia um Estado federativo no Brasil e uma folha com o nome dele.
Pulando para exemplos mais recentes, temos os casos de Ulysses Guimarães e de Teotônio Vilela. O primeiro, em abril de 64, achou que a
cassação dos direitos políticos de seus
adversários deveria durar mais do
que os dez anos prescritos no Ato Institucional daquele ano.
Financiado por usineiros e latifundiários de Alagoas, Teotônio armou
5.000 jagunços para invadir Pernambuco caso o governador Miguel Arraes resistisse ao golpe de 1º de abril.
São fatos sabidos, mas pouco lembrados. Tanto um como outro ficarão
na história como dois combatentes
da causa democrática. Cada um, a
seu modo, foi herói do nosso tempo.
Bolas! Por que estou lembrando isso? Porque sempre há tempo para reparar um erro, rever uma posição,
mudar de lado. Evidente que muitos
mudam de lado por conveniência, e
não por reflexão. O exemplo mais à
mão que me vem à cabeça é exatamente aquele em que o leitor está
pensando.
Sobrevivente involuntário daqueles
dias de abril de 64, ocupando a frágil
trincheira do único jornal que resistiu ao golpe, foi com alegria que, anos
depois, em 1968, com o AI-5, vi que o
número de resistentes aumentara,
grandes jornais do Rio e de São Paulo
mudaram de lado. E foram vítimas
de violência e censura.
Otto Maria Carpeaux, que era
companheiro de trincheira desde 64,
tinha temperamento sanguíneo,
achava que os novos aliados não mereciam confiança. Foi das poucas vezes que discordei dele.
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