São Paulo, terça-feira, 19 de abril de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Extirpando a miséria via empreendedorismo PAULO FELDMANN
Jeffrey Sachs é um professor e economista apto a falar sobre combate a pobreza. Sua experiência reúne casos de sucesso na redução dos índices de miseráveis em vários países. Recentemente editou "O Fim da Pobreza". Nossos formuladores de políticas públicas precisam conhecer o livro, pois uma das conclusões é a de que, na grande maioria dos casos, seria impossível criar empregos para atender a todas as pessoas que passam fome. E qual a saída ? Estimular a capacidade de empreender. O livro cita exemplos como o de mães na Índia que se tornaram exímias costureiras depois que conseguiram comprar suas primeiras máquinas de costura por meio do microcrédito, ou o de jovens que passaram a ganhar um rendimento que lhes permitiu sobreviver dignamente após terem conseguido, da mesma forma, seus laptops. Fala-se muito que o povo brasileiro é criativo e empreendedor. Então por que não levamos a cabo programas como esses? Porque faltam justamente políticas de apoio ao empreendedorismo, além do fato de que o microcrédito ainda não é encarado como um instrumento de combate à miséria. Capacidade empreendedora tem tudo a ver com pequenas empresas, pois o indivíduo que é dono de uma boa ideia se dirige ao mercado inicialmente criando a sua empresa. Se existe um segmento empresarial que nunca teve apoio real neste país, este é o das micro e pequenas empresas. Apesar de serem 99,1 % do total e gerarem 60 % dos empregos, são responsáveis por apenas 20 % do nosso PIB. Ou seja, elas não têm a menor importância no contexto da nossa economia. Em qualquer país do mundo elas recebem atenção especial. Na Itália, a legislação prevê a figura do consórcio, que é um grande estímulo para que elas se unam. Com isso, lá elas respondem por 42% das exportações. Vergonhosamente, no Brasil esse número é de 1,2%. Todo apoio que se dá às exportações no Brasil é voltado para as grandes empresas. Outro modelo vem sendo empregado por países da Europa: com apoio do Estado, a grande empresa fornece ao cidadão desempregado equipamentos para que ele possa desenvolver seu próprio negócio. Há exemplos interessantes de tecelagens em que os teares foram doados a cidadãos miseráveis, que, graças a isso, passaram a ter seu próprio negócio e a vender para aquela empresa que lhes beneficiou. Até mesmo o governo cubano, que recentemente demitiu 500 mil funcionários, está propondo que estes passem a ser empreendedores, e para isso oferece incentivos. Segundo a presidente Dilma Rousseff, sua meta até o final de 2014 é extirpar a miséria, que atinge 20 milhões de pessoas. Certamente, ela sabe que é impossível criar emprego para todas. A presidente acaba de enviar ao Congresso o projeto de criação da Secretaria Especial da Micro e da Pequena Empresa. Esperamos que, ao privilegiar o empreendedorismo, possa contribuir com a diminuição da miséria em nosso país. PAULO FELDMANN é professor da FEA-USP e presidente do conselho da pequena empresa da Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Vicente: É o racismo, estúpidos! Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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