São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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TOLEDO E A CRISE

Alejandro Toledo foi a figura que melhor encarnou a indignação da população peruana contra os desmandos da administração de Alberto Fujimori. Denunciando a corrupção, as manipulações eleitorais e os crimes contra os direitos humanos associados ao fujimorismo, Toledo venceu as eleições presidenciais do ano passado. Agora, menos de um ano depois de ter tomado posse, o primeiro presidente do Peru descendente de índios enfrenta uma séria crise de popularidade.
O desaprovação ao seu governo chega aos 72%. Para tentar conter uma onda de protestos antiprivatistas, o presidente declarou estado de emergência na região de Arequipa, segunda maior cidade do país. Também nas Forças Armadas parece haver uma onda de descontentamento contra Toledo. Na base desses acontecimentos provavelmente estejam a difícil digestão dos "esqueletos" da era Fujimori, as altas expectativas iniciais em relação ao novo presidente e um certo estranhamento popular a respeito de algumas ações do novo governo, como privatizações.
Toledo paga um preço em termos de respaldo institucional quando leva a termo sua promessa de investigar indícios de desmandos do governo anterior. Nesse processo de "depuração", vários oficiais militares foram afastados, alguns respondem a processo criminal, alguns estão presos. Está sendo julgado até um suposto abuso de poder na ação das forças de segurança contra os terroristas Tupac Amaru que tomaram a embaixada do Japão em 1992.
Na economia, Toledo, ao que consta, pretende avançar na agenda de reformas econômicas liberalizantes de Fujimori, procurando despi-la de seu vezo patrimonialista. O problema é saber até que ponto a realidade peruana permitirá a execução desse programa. De um lado, estão uma burocracia e, em boa medida, uma elite deterioradas e acostumadas à confusão entre público e privado. Do outro, a pobreza galopante, que atinge mais da metade da população.


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