São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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TRIÂNGULO DAS BERMUDAS

Depois de meses de trabalho, a Polícia Federal encerrou as investigações sobre o chamado dossiê Caribe. Não obteve provas definitivas a respeito de um ponto central desse caso obscuro em que estão contidos pelo menos intriga política e crime de chantagem. Não há, nas 730 páginas do inquérito da PF, elementos suficientes para provar a veracidade ou a falsidade dos papéis que sugerem a existência de uma suposta associação secreta e de contas bancárias de autoridades tucanas no exterior.
O desfecho inconcluso do inquérito policial frustra, uma vez mais, a demanda democrática pelo esclarecimento de um episódio em que está envolvido o nome do presidente da República. Essa frustração vem agora se somar a outros escândalos político-policiais da era FHC simplesmente não investigados ou ainda mal resolvidos, a exemplo da compra de votos para a reeleição e do caso do grampo no BNDES.
São nuvens de dúvidas e dívidas, morais inclusive, que o governo vai acumulando perante a sociedade e que, ademais, acabam servindo para alimentar o descaramento daqueles que têm se utilizado de métodos de chantagem para investir criminosamente contra o próprio governo.
No caso em questão há um constrangimento adicional. FHC interferiu para o fim das investigações quando determinou ao ministro da Justiça que processasse criminalmente as pessoas que ele próprio, presidente, considerava culpadas pelo dossiê Caribe, pedido que a Justiça acatou. Com isso, as investigações foram abortadas, embora não tenham conseguido estabelecer ao certo a origem e veracidade dos papéis.
Há de fato indícios de que a oposição malufista tenha procurado fazer uso político desse dossiê de autenticidade suspeita. A denúncia do Ministério Público contra Paulo Maluf, Lafaiete Coutinho e o pastor evangélico Caio Fábio foi aceita, mas a tramitação do processo está agora suspensa por liminar. Nada portanto está esclarecido. De concreto, só há mais mal-estar no país do boato -e mais combustível para boatos.


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