São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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O PARADOXO DE GREENSPAN

Alan Greenspan, presidente do Fed, banco central dos Estados Unidos, protagoniza um paradoxo. Ele é uma das mais importantes autoridades econômicas do mundo. No entanto, suas análises nos últimos anos têm sido desmentidas pela realidade econômico-financeira norte-americana. Ontem ele reafirmou seu ceticismo com relação ao vigor da economia e das Bolsas dos EUA.
O novo alerta é bastante oportuno. Animado com indicadores recentes de recuo nas pressões inflacionárias, a maioria dos analistas financeiros norte-americanos alterou suas expectativas e começou até a acreditar numa elevação apenas modesta dos juros nos próximos meses.
Em depoimento à Comissão Mista de Economia do Congresso dos Estados Unidos, Greenspan apresentou uma ressalva fundamental, que deveria ser mais bem avaliada pelos analistas. Ele disse que a estabilidade de preços não é uma garantia suficiente para a estabilidade dos mercados financeiros nem tem o dom de propiciar mais crescimento econômico.
Ao contrário, Greenspan alertou para o fato de que um ambiente benigno "pode induzir os investidores a assumir mais riscos, levando os preços dos ativos para níveis insustentáveis". Cabe acrescentar que, em vários setores, os preços das ações já estão atualmente em níveis que podem ser considerados insustentáveis ou sem fundamento nas perspectivas de crescimento econômico.
O Fed decidirá nos próximos dias 29 e 30 de junho sobre as taxas de juros. Os mercados já dão como certa a elevação, mas parecem não prestar a devida atenção às razões do presidente do banco central dos EUA.
Ainda assim, se os juros em si não preocupam tanto, o mesmo não se aplica à crítica aos investidores que assumem riscos demais. Os EUA podem estar vivendo sua própria bolha, conclui Greenspan, mas isso só ficará claro depois que a euforia passar.
Resta saber se, passados quase cinco anos de crises globais, a bolha vai afinal desinflar suavemente.


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