São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Migrantes e refugiados

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A mobilidade humana é uma das características mais abrangentes de nossa época. Larga parte do povo brasileiro vive atualmente em cidades diferentes daquelas em que nasceu. Em outros países conflitos e misérias obrigam milhões de pessoas a imigrar. Quem não percebe a dura condição dos que não encontraram ainda um lugar estável para nele residir e trabalhar?
Amanhã celebra-se no Brasil o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados. O santo padre João Paulo 2º enviou mensagem, no dia 2 de fevereiro de 1999, recordando, em vista do Grande Jubileu, a missão da Igreja de colaborar na acolhida dos migrantes e de procurar que se sintam integrados nas comunidades cristãs, com pleno respeito aos aspectos culturais próprios de suas origens.
Para ajudar-nos a assumir esse compromisso fraterno, a mensagem pontifícia destaca alguns aspectos da nossa acolhida.
1) Nesta terra somos todos hóspedes e peregrinos. A Igreja se reconhece assim, por sua natureza solidária com o mundo dos migrantes, na variedade de línguas, raças, culturas e costumes a caminho da casa do Pai. Essa perspectiva ajuda a superar a tentação de um nacionalismo exacerbado e a colocar em prioridade a cidadania comum de quem se destina à pátria definitiva.
2) Já nos tempos antigos, o estrangeiro era considerado como marginalizado. Deus protegeu o povo de Israel escravo no Egito e ensinou a acolher a todos. Jesus, pelo seu exemplo e doutrina, coloca a caridade -amor a Deus e aos irmãos- no centro de sua pregação e revela a dignidade de toda pessoa humana criada e amada por Deus.
3) Para o cristão, cada pessoa é o "próximo" que deve ser estimado e respeitado. De todos devemos nos aproximar. A parábola do bom samaritano (Lc 10, 30-37) não só mostra que devemos fazer bem a quem passa necessidade, mas coloca em evidência a caridade do estrangeiro, que se torna modelo para os seguidores de Cristo. Diante da situação dos migrantes e refugiados, somos chamados a oferecer a hospitalidade fraterna, qualquer que seja a sua pertença religiosa, superando toda exclusão, todo preconceito ou discriminação. Como gostaríamos nós de ser recebidos se tivéssemos que deixar nossa terra e imigrar?
4) É preciso, diante da pobreza de muitos migrantes, à imitação de Jesus Cristo, assumir a opção preferencial pelos pobres e necessitados e o compromisso de promover seus direitos inalienáveis. Às comunidades paroquiais compete organizar-se para ajudar e enfrentar, em especial, o desafio do desemprego.
5) Uma das causas que acarretam o fluxo migratório é a grande pobreza dos países de que provêm, agravada pela dívida externa. Daí a insistência do santo padre sobre a necessidade de encontrarmos soluções para libertar os países pobres do seu endividamento em relação às nações ricas.
A Igreja, no limiar do novo milênio, é chamada a intensificar o seu serviço à sociedade, a fim de que milhões de migrantes sejam valorizados na sua cultura e recebidos com simpatia e amor.
Que o povo brasileiro -sob a proteção materna de Maria- dê ao mundo o testemunho de sua fé e caridade na acolhida fraterna e generosa aos que vierem viver e trabalhar em nosso país.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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